Ontem, enquanto escrevia o Editorial para o Jornal da Mealhada e para o FRONTAL – sobre a queda do Muro de Berlim, em 1989 – e fazia a pesquisa do que tratava, dei-me por mim a fazer uma comparação inevitável e, até, de certa forma recorrente.
Há vinte anos, em Novembro de 1989, a governança do Mundo tinha as seguintes lideranças:
Helmut Kohl governava a RF da Alemanha.
Lech Walesa acabava de ganhar as eleições na Polónia.
Mikail Gorbatchov presidia à URSS.
A primeira-ministra britânica era Margaret Thatcher.
O primeiro-ministro espanhol era Felipe Gonzalez.
O presidente francês era François Mitterrand e tinha como seu primeiro-ministro Jacques Chirac.
Em Portugal, Cavaco Silva era primeiro-ministro e Mário Soares presidente da República.
O presidente da Comissão Europeia era Jacques Delors.
Ronald Regan havia deixado a presidência dos Estados Unidos há poucos meses.
O secretário-geral da ONU era Perez de Cuellar.
Ou seja, em 1989 o Mundo era governado por muitos daqueles que poderão ser considerados como os melhores politicos do século XX – ou de pelo menos da segunda metade.
Foi possível fazer cair o Muro, segurar as pontas e reunificar a Alemanha, em 1989. Seria possível hoje?
Desde 1989, que líderes tivemos? Tivemos Aznar. Tivemos Tony Blair. Tivemos (para quem aprecia) Bill Clinton. Temos agora Sócrates – que até pode, perante o deserto, ser uma referência. Temos Nicolas Sarkozy. Temos Barack Obama (se não se estragar). E não temos, rigorosamente mais nada.
A falta de líderes parece-me ser um dos maiores problemas da modernidade.
E essa falta nota-se, agora, por exemplo, quando os lideres europeus precisam de arranjar um Presidente para o Conselho Europeu e andam à rasca. Presidente de arranjar um chefe para a diplomacia e nada!
Vou acompanhando a politica internacional como posso e, desde há muito, reparo que o futuro da politica europeia passa muito mais pela Grã-Bretanha do que pela Europa Continental – isto até parece rídiculo. E na Grã-Bretanha a esperança começa a ser, muito mais, David Miliband – o actual ministro dos negócios estrangeiros (trabalhista) – do que David Cameron – o líder dos Tories e futuro primeiro-ministro. Ou seja, já não está em causa quem será o próximo PM, mas quem será o seguinte (em Portugal, curiosamente, passa-se o mesmo com António José Seguro e Pedro Passos Coelho).
Ora acontece que Miliband foi convidado para ser a indicação socialista para o cargo de Alto Representante da Política Externa da UE (até porque o nome de Blair foi vetado para o cargo de Presidente do Conselho Europeu). A escolha seria acertada. David Miliband, no entanto, declinou o convite porque considera ser mais necessário o contributo que tem para dar à Grã-Bretanha… que para já (ainda) não é nenhum… Trata-se de um líder que, digo eu, nunca deixaria o exercicio de um cargo nacional para exercer responsabilidades europeias…
Como europeu lamento.
O Courrier Internacional traz um artigo (partes dele) fantástico escrito pelo Mayor de Londres acerca do assunto.
Por falar em Mayor de Londres, consta que um destes dias andava o senhor a dar a sua voltinha de bicicleta à noite quando viu um grupo de meliantes a molestar uma senhora. Não se atemorizou com o grupo, saltou da bicicleta, agarrou um ferro que estava nas proximidades e deu-lhes um enxerto de porrada.
Ora aí está um autarca modelo…