«Trouxeram ao rei uma espada. “Cortai pelo meio o menino vivo”, disse ele, “e dai metade a uma e metade à outra”. Mas a mulher, mãe do filho vivo, sentiu suas entranhas enternecerem-se e disse ao rei: “Rogo-te, meu senhor, que dês a ela o menino vivo; não o mateis”. A outra, porém, dizia: “Ele não será nem teu, nem meu. Seja dividido!”.
Então o rei pronunciou o seu julgamento: “Dai”, disse ele, “o menino vivo a essa mulher. Não o mateis, pois é ela a sua mãe”.»
I Reis, 3, 24-27
O episódio bíblico, conhecido como a Justiça de Salomão, serviu de mote à maior parte das decorações em tribunais – pelo menos em tribunais portugueses. É, normalmente, visto como uma alegoria à Justiça e à Sabedoria do julgador. Salomão conseguiu, através de uma artifício simples descobrir – ou apurar? – a Verdade e, assim, conseguir produzir uma decisão justa.
Mas esta é, também, uma alegoria ao Amor Verdadeiro. Ao Amor que prefere doar e persistir do que possuir e matar ou impedir que outros possuam o que não pode ter.
A mãe verdadeira, porque ama realmente, prefere que a falsa mãe, rancorosa, invejosa e má, tenha o que não é seu a ver o seu filho morto. Antes vivo e longe do que morto.
Se centramos a nossa atenção na mãe verdadeira e não tanto em Salomão, percebemos melhor a lição que um outro ponto de vista nos pode proporcionar. E até nisso sobressai a sabedoria divina dada ao rei de Israel. A de saber avaliar e perceber a Verdade no Amor demonstrado, que muitas vezes é, exactamente, um acto de renuncia ou despojamento completo.