«Este parte/ aquele parte/E todos, todos se vão»?
Há poucos dias, a catadupa de uma conversa, daquelas que começam num “por acaso” e não se
sabe como terminam, aportámos na filosofia de Jaime Cortesão – quase um conterrâneo, aqui
de Ançã – e sobrevoámos as teorias de Agostinho da Silva, a propósito do determinismo de “ser português”. Defendia Cortesão que há um “humanismo universalista” no “ser português”, uma espécie de característica genética da portugalidade, que nos condiciona em quase tudo, que nos refrata a forma como vemos o mundo, e, especialmente, na relação que temos com os outros. Cortesão fala de um humanismo prático, pragmático, que está na essência do português e, acima de tudo, um papel especial dos portugueses na história da civilização: o descobrimento e a unificação do Mundo pelo conhecimento.
sabe como terminam, aportámos na filosofia de Jaime Cortesão – quase um conterrâneo, aqui
de Ançã – e sobrevoámos as teorias de Agostinho da Silva, a propósito do determinismo de “ser português”. Defendia Cortesão que há um “humanismo universalista” no “ser português”, uma espécie de característica genética da portugalidade, que nos condiciona em quase tudo, que nos refrata a forma como vemos o mundo, e, especialmente, na relação que temos com os outros. Cortesão fala de um humanismo prático, pragmático, que está na essência do português e, acima de tudo, um papel especial dos portugueses na história da civilização: o descobrimento e a unificação do Mundo pelo conhecimento.
Vem isto a propósito do aparente paradoxo destas teorias com a prática da nossa atitude coletiva perante a emigração portuguesa – a Diáspora – que insistimos em desvalorizar, em menorizar, em ridicularizar, quase como se nos sentissemos traídos por eles terem saído do país e nós não. O emigrante de regresso a casa é sempre o francês… ou o americano…
O anúncio televisivo da criança que dizia aos jogadores da Seleção Nacional de Futebol que não queria sair do país, mas se eles não ganhassem “ia ter de ser”, aliado à onde de protestos sobre as declarações do Governo sobre a emigração de jovens quadros, é, apenas, a espuma mais recente de uma ideia que nos está enraizada desde os “vapores para o Brasil”.
Aos jovens de hoje – a todos os que têm hoje menos de 40 anos, talvez – impingimos, depois da adesão à CEE, em 1986, a ideia de que eram uma geração europeia, que tinhamos de conhecer o mundo. Para isso aproveitaram-se e divulgaram-se Interrails, Erasmus, intercâmbios escolares, viagens de estudo e afins. Quando os frutos se começam a ver e os portugueses são requisitados para trabalhar na tal Europa onde nos devíamos mostrar, aqui del-Rei que ficamos sem gente. Volta-se a cantar o poema de Rosália de Castro sobre os “campos de solidão”. Disparate.
Os emigrantes portugueses são uma das mais-valias que temos. Em termos de projeção, em termos económicos, em termos culturais. Ativos que precisam de ser colocados ao serviço do coletivo.
Evocando Cortesão, parece-nos que ser emigrante é ser um português completo.
Editorial do Jornal da Mealhada de 18 de julho de 2012