O dilema, no esplendor do caos

 
Do
confronto político em Portugal, dos pseudodebates entre partes organizadas na dialéctica
democrática, chegamos à conclusão de que é completamente estéril o formalismo
que a Constituição estabelece como forma de organização dos cidadãos.
Contrariamente ao que asseveram senadores (no caso senadora) da
Economia-que-só-acerta-quando-está-fora, não queremos com isto dizer que
“os problemas complexos não se conseguem resolver em democracia”. Não,
nada disso!

O que nos parece
é que o sistema partidário em Portugal está completamente falido. Os partidos
políticos estão completamente focados na transmissão da sua cassete, que só
eles ouvem — como se discursassem para se ouvir a si próprios — e não na
resolução concreta de problemas reais das pessoas. Os partidos portugueses são
hoje parte do problema, e não parte de qualquer solução.

Não se reduz o
número de deputados, porque os partidos mais pequenos não deixam. Não se mudam
leis eleitorais porque os partidos da coligação do Governo não se entendem. Não
conversam os líderes dos principais partidos porque um acha que foi
desrespeitado e o outro não disse sobre o que queria falar. Não se tolera que
se altere a constituição porque cada partido acha que o outro a quer subverter
ideologicamente…

Portugal precisa
de uma refundação? Claro que sim. Precisa de reajustar o Estado Social? Claro
que sim. Mas só depois de os partidos políticos se refundarem, se
democratizarem e se reajustarem ao mundo. Primeiro salvem-se, e depois queiram
ajudar a salvar o país!

Como
diz Eduardo Lourenço: “Pode discutir-se se a desordem em que estamos
mergulhados — desde a económica até à da legalidade e da ética — releva ou não,
em sentido próprio, do conceito de caos. Do que não há dúvidas é de que o
habitamos como se fosse o próprio esplendor”. 
 
Editorial do Jornal da Mealhada de 7 de novembro de 2012