No sábado à noite, voltei a ver o filme de Amenabar sobre Ramón Sampedro, o galego de Xuño que, tetraplégico, pedia para morrer. O tema interessa-me e perturba-me. E, apesar de católico, reconheço que gostaria que alguém me amasse tanto ao ponto de me ajudar a morrer. O filme “Mar Adentro” é um filme que ajuda a pensar, mas que não toma posição. É um filme sobre o Amor, tal como a história de Ramón é uma história de amor.
O filme obrigou-me a ir à procura de mais… a ver a cara do verdadeiro Ramón, para além da cara de Bardem. E encontrei este documentário. E ver a cara de Rosa, que afinal se chama Ramona. E a cara da cunhada Manuela, do irmão José, e de outros intervenientes numa história com 26 anos. Em que o irmão é contra a opinião de Ramon precisamente com o mesmo argumento de Ramón. Ajudar a morrer por amor.
O filme de mostra alguns meses na vida de Ramón Sampedro. E parece fácil a rotina, a serenidade, o apoio e o dia a dia. Parece que é possivel ser feliz assim, vivendo assim, ajudando alguém a viver assim, aceitar ser ajudado assim… Mas há 26 anos a somar aqueles meses… 26 anos de sofrimento, de dependencia… de um tetraplégico que pensa: esta mulher não pode ir a lado nenhum por mim causa… porque se não não como, não bebo, mas não morro!
De tudo isto fica-me a dúvida:
Qual foi o pecado maior?
– O de permitir que um homem morra quando quiser, e assim ser deus da sua própria vida (uma oferta de Deus)?
– Ou o de ter criado tantas formas de prolongar artificialmente a vida a ponto de as pessoas terem deixado de morrer naturalmente?
Ramón diz neste documentário uma coisa muito importante. Ensinaram-nos a sublimar a vida, como a Igreja nos ensina a sublimar o sofrimento… mas porque raio não se pode sublimar a morte?