Foi com grande satisfação que soube que a Escola Secundária da Mealhada ganhou a finalíssima das Escolíadas 2015, a 26.ª edição do concurso criado por Claude Pires, em 1990. Muitos nunca acreditaram que isso algum dia fosse possível. Mas foi, e quem o conquistou merece o nosso reconhecimento, o nosso elogio e a nossa satisfação. Parabéns, muitos parabéns!
Mais do que uma vitória, vocês honraram 26 anos de grande esforço.
A Escola Secundária da Mealhada é provavelmente, a única escola que, ininterruptamente, participou no Concurso a escola com maior número de participações nas Escolíadas, 25 em 26 edições. Em 1996 conseguimos ir à Final (num tempo em que havia apenas um pólo e tudo acontecia nos Três Pinheiros), ficámos em segundo lugar… perdemos para a Marques Castilho, de Águeda. Sei que mais recentemente, talvez no inicio dos anos 2000, voltámos a ir à final… mas nunca tinhamos E ganhámos o caneco uma vez. Desta vez ganhámos a final do pólo de Aveiro e a Finalíssima. Foi bonito.
Em 1995 participei, pela primeira vez, na Equipa da Escola Secundária da Mealhada, na prova de Teatro. Representámos o “O Noivado do Sepulcro”, de Soares dos Passos. Eu representei o noivo. Não ganhámos nem sequer a sessão, quanto mais aspirar a ir à final.
No ano seguinte, em 1996, eu era presidente da ASSESSEC – Associação de Estudantes da escola e na minha equipa tinha a malta dividida. Tinha membros dos corpos sociais da associação que achavam que a Mealhada nunca ganharia o concurso, porque sendo daqui, não interessava à organização que ganhasse. Tinha outros que achavam que valia a pena tentar. Salomonicamente decidimos fazer um referendo junto de todos os alunos da escola. Fez-se campanha pelo Não e pelo Sim.
Ganhou o Sim, o vamos a isso!
Nesse ano conseguimos o que nunca havia sido possível fazer. As pessoas uniram-se, criou-se espírito de corpo e conseguimos ganhar a sessão e ir à final.
Liderei a equipa de organização – com ajuda de toda a gente, até dos professores que nessa altura estavam muito arredados destas lides – e integrei a equipa de teatro. Representámos uma peça chamada “A Teia”. Eu fazia de pai do Nuno Cruz e foi nessa altura que deixei crescer a barba… para parecer mais velho (está nos primeiros seis segundos do video que está em baixo). Contracenavam connosco o Pedro Duarte, o Jorge Sousa, a Patrícia Grilo, entre outros.
Perdemos a final, mas eu ganhei uma namorada…
Foi bonito…
Em 1997, com a saída de uma grande equipa que entretanto tinha ido para a Universidade, as coisas esmoreceram em termos de dinâmica da escola. No entanto, acho que apresentámos uma das mais espantosas e espectaculares peças que eu vi nas Escolíadas. Uma peça do professor João de Oliveira, na altura professor da escola que escreveu um texto brilhante, baseado no Manifesto Anti-Dantas, de Almada Negreiros. Era o “Manifesto Anti-Tchancas” e uma fina critica ao sistema educativo português vigente nesse tempo da “Geração Rasca”. Excertos da peça estão neste video. Nessa altura, eu já de pera, subia ao palco com o Sérgio Semedo, o Miguel Ângelo Cruz e o Rafaele Mannarino.
Ver a Escola Secundária da Mealhada ganhar na sexta-feira foi sentir que foi feita justiça. 26 anos depois. Naquela que pode ter sido a última sessão das Escolíadas, apesar de eu achar que não vai ser, que vai sempre ser encontrado um caminho. Tenho essa esperança.
Continuo a acreditar que o projecto Escolíadas é talvez a única hipótese viável e honesta de democratizar a cultura e a experiência artística na formação integral dos jovens da região Centro de Portugal. Foi a primeira vez que subi a um palco com uma casa cheia, e ser avaliado, que organizei e liderei uma equipa com vista a um objectivo comum e central.
As Escolíadas são parte de mim e do meu passado.
[Informação actualizada em 03JUN às 15h14m]
[Em 2007, numa Gala de Entrega de Prémios, no Cineteatro Messias, Claude Pires teve a amabilidade de me obsequiar com a produção e divulgação deste vídeo.
Eu sinto-me Geração Escolíadas]