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Quando, por alguma necessidade, preciso de falar a alguém sobre o que é o voluntariado, recorro à quase milenar máxima franciscana: “É dando, que se recebe!”. Não é, por isso, completa a afirmação de que o voluntário se dá sem esperar nada em troca. O voluntário recebe em troca a satisfação de ter feito a coisa certa, de ter dado de si, ao seu próximo, a quem precisava. Não espera a retribuição monetária, não estará à espera de elogios, de honrarias ou de medalhas. Recebe a alegria de saber que está do “Lado Bom da Força”, que é militante da boa vontade e do ‘dever-ser’.
É este o móbil de milhares de bombeiros voluntários em Portugal – o maior exército de que o país dispõe, em todo o território e praticamente sem custos para o Estado -. É isto que faz agir mais de onze mil escuteiros adultos a trabalhar com os mais jovens. É este o propósito das muitas centenas de voluntários da Cruz Vermelha em Portugal e dos milhares de agentes daCruz Vermelha e do Crescente Vermelho em todo o planeta. E é isto que faz sair do conforto todos os que servem associações cívicas, desportivas, culturais e recreativas defendendo interesses comuns. Servir o irmão, sabendo que o fazemos porque é a coisa certa.
O Homem está geneticamente preparado para cooperar. A sobrevivência da espécie humana está assente na cooperação. Mas a verdade é que todos os sinais que a sociedade moderna transmite – nomeadamente às crianças e aos jovens – vão no sentido inverso. Ensinamos as nossas crianças valores associados à competição, à auto-realização, a um sentido de valorização individual, de sucesso pessoal como vitória absoluta. Ensinamos as crianças a ser tolerantes, como se a postura certa fosse a de tolerarmos, apenas tolerarmos o outro e não sermos humanos com ele. Ou de que a nossa Liberdade é limitada pela liberdade do outro… como se a liberdade não fosse algo que se vive em comunhão, coletivamente, e que só é real quando é partilhada.
É por isso, pela contradição de sinais dados com os valores que são inerentes à condição humana, que um dos desafios de hoje é o de Educar as crianças e os jovens para o voluntariado, para a participação e para a cooperação e para o bem-comum.
Precisamos de colocar a Educação para o Voluntariado como uma prioridade nas nossas escolas, como uma das ações relevantes das associações humanitárias das nossas comunidades – como a Cruz Vermelha, Escuteiros ou Bombeiros. É um desafio. É um combate que parecerá infrutifero ou até irrevelevante. Mas o voluntariado é uma semente que germina na retribuição dada pela satisfação pessoal – e indescritível – de saber que se fez a coisa certa quando o nosso irmão precisou. Acrescido da certeza de que quando for preciso, alguém o fará por nós também… é o natural contágio do bem-fazer.
Texto enviado à Delegação da Mealhada da Cruz Vermelha Portuguesa, para publicação no seu blogue, na rubrica mensal «Um por mês»