Tenho assumido uma posição clara em relação à hipótese de o XXI Governo Constitucional ser presidido pelo Dr. António Costa, líder do PS, após o derrube do Governo de Passos Coelho através de um acordo com o Bloco de Esquerda, o Partido Comunista Português e o Partido Ecologista “Os Verdes”. Não concordo que esta unicidade da Esquerda seja assente numa ideia construtiva de salvar ou contribuir para a melhoria do país. Parece-me que se trata de uma estratégia revanchista de impedir que a coligação que ganhou as eleições em 4 de outubro possa governar.
Não tenho nada contra o Dr. António Costa, acho apenas que a vontade pessoal de querer emendar à mão a sua derrota pessoal o levou a cair na tentação de acolher o presente envenenado de Catarina Martins – acredito que Jerónimo e o PCP foram a reboque e até já se arrependeram. Não sou militante do PS, como (já) não sou militante do PPD/PSD, porque não concordo com a prática política que o partido tem tido nos último anos. Votei na Coligação Portugal à Frente, e expliquei porquê. Nada tenho contra o PCP ou contra o Bloco de Esquerda.
Entendo, como quase todos os socialistas que conheço e com quem tenho conversado sobre este assunto, que a solução que a liderança do partido parece querer encetar não será positiva para os portugueses e que o PS ajudaria mais o país se procurasse condicionar a actuação do PSD e do CDS no sentido de os obrigar a adoptar as suas medidas do que ser condicionado pelo PCP e do BE caindo inevitavelmente na adopção de estratégias anti-sistema e ideologicamente fracturantes.
Acredito, até, que a solução que António Costa parece querer adoptar vai ser negativa para a própria matriz interna e ideológica do Partido Socialista – no fenómeno ultimamente chamado de Pasokização – e parece-me que, daqui a dois anos, nas Eleições Autárquicas de Outubro de 2017, o PS pode ser extraordinariamente penalizado pelos portugueses, porque o país não vai estar melhor, porque o partido não ajudou os portugueses e, acima de tudo, porque não vai conseguir demonstrar a tese de que mais do que demonstrar que queriam que o PàF fosse Governo, os portugueses, em 4 de outubro de 2015, disseram exactamente o contrário.
Não chego ao ponto de escrever aos socialistas, pedindo-lhes que travem António Costa, como fez há poucos dias Pedro Bazaliza, numa Carta Aberta aos Deputados Socialistas, ou exortar à revolta. Mas tenho falado com muitos militantes e autarcas do PS e noto que não estão satisfeitos, que esta solução não lhes agrada, e parece-me que ainda há hipótese de o bom-senso conseguir afirmar-se e o PS assumir o papel que tem na sociedade portuguesa.
Num toque um pouco mais erudito e provocatório, não posso deixar de sugerir aos socialistas – especialmente aos que têm responsabilidades no partido – a leitura da peça “Ricardo III”, de Shakespeare. Quem não quiser ler, tem aqui uma adaptação ao cinema de Richard Loncraine, de 1995, com Ian McKellen, Annette Bening, Jim Broadbent, Robert Downey Jr., Nigel Hawthorne, Kristin Scott Thomas, Maggie Smith, John Wood, e Dominic West. Esta abordagem é especialmente interessante se procurarmos ver nela a intemporalidade das relações humanas e das motivações políticas… e naturalmente, da inevitabilidade do desenlace. Trata-se de uma peça escrita em 1592, sobre um personagem real que viveu entre 1452 e 1485, e que neste filme ficciona uma versão fascista de um Reino Unido na década de 1930… e que hoje aqui cito para uma realidade de 2015.
Vale a pena ver… penso eu de que…