Mil Carateres #17 – Publicado no Jornal da Mealhada de 20JUL22
[2544.] ao #15823.º
Eis a pergunta sacramental para a qual todos temos respostas, mas que não deixamos de fazer: Por que arde Portugal?
Das respostas que temos, invariavelmente, mora a culpa na casa ao lado. O Governo diz que a culpa é dos proprietários, os proprietários respondem que a culpa é da ‘mão criminosa’, outros afirmam que a culpa é da falta de meios, outros da descoordenação. E até num momento em que parecia que íamos ter o Presidente da República a dizer ‘A culpa é minha!’… ouvimos antes dizê-lo que não se recandidataria se os culpados não resolvessem o problema.
Pois bem… parece-me claro que está mais que visto que a culpa de Portugal, ciclicamente, arder loucamente é de todos, inclusivamente de quem escreve este texto e de quem o está a ler.
Neste ano de 2022, percebemos que há o problema natural das altas temperaturas e das baixas humidades que levam a que os incêndios sejam mais violentos. Em Albergaria, na semana passada, uma área que em 2017 tinha demorado 3 dias a arder… ardeu agora em 7 horas. Está a arder Portugal… como está a Espanha, o sul de França e a Itália. São as alterações climáticas? Atribua-se a culpa, então, democraticamente.
O abandono e a falta de cuidado de terrenos florestais perdidos por esse país, com tantos donos que não há quem mande limpar – até porque limpar é muito caro e não há quem o faça – são outro problema. Fazer o cadastro dos terrenos – com borlas temporárias e outros benefícios – é importante, mas não torna os terrenos imunes ao fogo. Emparcelar os terrenos, nacionalizar a propriedade não reclamada, ou fazer as Zonas de Intervenção Florestal (uma espécie de modelo cooperativo em que alguém gere e divide os lucros) são uma solução? É possível que sim, mas é preciso pressa e mão firme para tomar essas decisões… E os terrenos do Estado não são modelo para coisa nenhuma.
Financiar convenientemente os corpos de bombeiros e valorizar os bombeiros voluntários não evita os fogos, mas pode torná-los menos devastadores.
Há muito a fazer para minimizar o impacto que os fogos rurais ou florestais têm na nossa vida – com implicações económicas generalizadas e muito importantes -. E todos temos um papel nisso, quer sejamos herdeiros de terrenos perdidos por aí, quer sejamos profissionais de qualquer área de conhecimento, vivamos no campo ou na cidade, quer sejamos, apenas (?) eleitores. Podemos fazer todos parte da solução.