Ao som de «Cantar os Reis», por Origem Tradicional

[2508.] ao #15627.º

Hoje é Dia de Reis. Finalmente chegaram ao estábulo onde Maria e José estão com o bebé Jesus. Trazem as prendas e a exaltação da divindade do recém-nascido.

Para nós, eles são os Três Reis Magos. Mas para os ingleses eles são os ‘Three Wisemen’. Ou seja, são os sábios… Não são nem reis, nem magos… São sábios! Os Reis do Presépio são, acima de tudo, uma alegoria à divindade do Cristo nascido. Tudo neles é simbólico. O número, as proveniências, os presentes, tudo. Serem reis e subjugarem-se ao Deus-Criança nascido empodera a criança… E isso é, para nós, relevante. Para os saxões, serem sábios e subjugarem-se à Criança é relevante. Será, isso, sinal de que na Europa do norte a inteligência é mais poderosa que a realeza ou o estatuto social e político?

Ainda perante o presépio e a Sagrada Família, o Papa Francisco, durante a primeira audiência geral do Ano Novo no Vaticano, terá considerado que são egoístas os casais que preferem ter animais em vez de filhos. A declaração do Papa não é inédita e há, dentro da Igreja Católica, muitas pessoas – especialmente leigos – que a propagam à exaustão. Eu próprio já tive de me retirar de assembleias onde esta ideia – sem apelo nem agravo, sem nuances nem mas – é apresentada como um soundbite lançado para chocar!

Há casais católicos que não são pais porque não podem. Há casais católicos que não adoptam porque não conseguem. Há casais católicos que dão atenção a cães e gatos, mas também dão o seu Amor a sobrinhos e afilhados e aos filhos dos amigos. Não é, naturalmente, a esses casais católicos que o Papa Francisco chamou egoístas! Mas também é a esses casais católicos que o Papa Francisco e a Pastoral Familiar da Igreja têm um abraço a dar, uma palavra de alento, uma oração de Amor. É também para estas famílias que a Pastoral da Igreja poderia ter um papel a desempenhar. Porque o sofrimento e a angústia que vivem – especialmente com a avaliação que a sociedade lhes faz não de uma opção, mas de uma contingência da Natureza – também deve ser valorizado aos olhos dos cristãos católicos.

Não será o problema da infertilidade humana, especialmente nas sociedades ocidentais, um problema a que a Igreja deveria dar atenção? Quantos casais sem filhos são precisos para a Igreja dar atenção a este problema? É um problema real e importante!

De qualquer modo, interessa deixar claro: Se a Igreja não se quer envolver nesta questão, tudo bem! É uma opção! Mas, por favor, procurem – dentro da mínima Caridade Cristã – nos soundbites que lancem sobre o tema ter uma palavra distintiva entre os que podem mas não querem e os que querem, mas não podem! Ninguém tem, para além do seu sofrimento, de ter na testa tatuada a informação de que é infértil. E custa estar, constantemente, a ouvir a sua Igreja a, na falta de assertividade, chamar-lhe egoísta!

Cabe à Igreja ser, também, a ‘Estrela do Ocidente’, como a de Torga:

«Por teus olhos acesos de inocência

Me vou guiando agora, que anoitece.

Rei Mago que procura e desconhece

O caminho,

Sigo aquele que adivinho

Anunciado

Nessa luz só de luz adivinhada,

Infância humana, humana madrugada.

Presépio é qualquer berço

Onde a nudez do mundo tem calor

E o amor 

Recomeça. (…)»