Faleceu no passado sábado um Homem Extraordinário, um Amigo Extraordinário, um Mealhadense Extraordinário. Conhecido por Comandante Felgueiras, por Zé Barroso, por Presidente Felgueiras [Tenente Felgueiras, Velhinho] ou simplesmente por Felgueiras, a Verdade é que José Barroso da Cunha Felgueiras foi sempre um sedutor charmoso, sem deixar de ser um general sem medo – capaz de grandes ruturas.
Em 1933 nasceu na sua ‘Mealhada Linda’, estudou fora, quase acabou Matemática, esteve em Angola, foi homem de sete instrumentos. Seguiu as passadas dos pais e comerciou, vendeu, investiu.
Em 1976, com 43 anos, foi candidato a Presidente da Câmara Municipal da Mealhada, logo nas primeiras eleições democráticas do Poder Local. Perdeu, mas nem por isso deixou de aceitar ser liderado – integrando a equipa e assumindo pelouro -, tornando-se muito próximo da Presidente, uma senhora, de outro partido. Pela sua Mealhada Linda, tudo.
Ainda com grande exposição pública, foi corajoso a ponto de, na sua vida pessoal e privada, assumir rutura fortíssima. Assumiu, com coragem, sem medo, na defesa do que acreditava ser melhor para si e para a sua felicidade.
Em 1981 tornou-se comandante dos Bombeiros da Mealhada. O quarto, depois do seu pai ter sido o primeiro. Nas suas sucessivas comissões, durante 20 anos, foi um líder respeitado e reconhecido. Ontem, os Bombeiros da Mealhada receberam condolências de norte a sul do país. Ajudou a construir um quartel, novo, e deixou obra material e imaterial.
Apesar disso, nunca deixou de, sem penachos nem foguetes, aceitar servir a sua terra, a sua Mealhada Linda, sempre que fosse preciso. Sempre. Presidiu ao Grupo Desportivo da Mealhada, presidiu à Associação do Carnaval da Bairrada, presidiu ao Grupo Columbófilo da Mealhada…
Fez sempre questão de se rodear de gente que o complementasse. Fez equipa com gente muito mais jovem – a quem chamava de ‘baixinhos’ -, gente com mais estudos e menos estudos, mais conhecidos ou menos conhecidos, mais amados ou mais odiados. Servir a sua Mealhada Linda era o que interessava.
Em 2001 aceitou ser candidato a Presidente da Junta de Freguesia da Mealhada. E assim foi por 12 anos. Primeiro à tangente, depois com maiorias absolutas sucessivas, foi capaz de criar ruturas e consensos, desde que capazes de fazer o melhor pela sua terra. Foi capaz de aceitar recusar a lei que o tornou o ultimo presidente da Junta da Mealhada. E foi-o até ao fim… mesmo quando a sua saúde já preocupava, de sobremaneira, os seus três filhos.
“Não são de cá!”, dizia com desprezo, como um insulto, de quem não gostava ou, como autarca, com quem não concordava. Porque, para o José Felgueiras, “Ser de cá!” era ser como ele: Fiel, preocupado com as pessoas, conhecedor dos problemas e das características, capaz de cumprir compromissos, ser próximo e acessível. José Felgueiras tinha um partido de que foi militante, de que deixou de ser, de que voltou a ser: Mas a fidelidade maior, a única, talvez, era à sua Mealhada Linda. Era ser de cá.
[No sábado perdi um grande amigo, com quem aprendi muitíssimo. Com quem aprendi a importância e o alcance de ‘Ser de cá!’, mesmo que para isso seja preciso fazer ruturas]
No sábado perdemos, definitivamente, um Homem Extraordinário, um Amigo Extraordinário, um pai extraordinário e um Mealhadense extraordinário.
Gostaria de sublinhar e agradecer ao Sr. Presidente da Câmara o facto de imediatamente ter mandado colocar a bandeira do município, durante todo o dia de ontem, dia das exéquias, a meia haste – poderoso sinal de luto – e proponho que seja enviado aos filhos uma mensagem de condolências do Município da Mealhada.
Voto de Pesar pelo Falecimento de JOSÉ BARROSO DA CUNHA FELGUEIRAS (25NOV1933 – 16JAN2021) lido e submetido à aprovação (unânime) na Reunião Ordinária da Câmara Municipal da Mealhada de 18JAN2021.
O conteúdo que está a itálico e entre parênteses retos consta da redação original, foi lido na reunião, mas, por opção do proponente, não foi incluído na versão enviada para redação da acta.
[2465.] ao #15274.º