Ekapol Chanthawong é o assistente do treinador da equipa tailandesa de futebol Moo Pa que, com 12 crianças, ficou preso na gruta Tham Luang durante 17 dias, em julho deste ano. Ao longo dos vários dias em que, de forma global, o mundo acompanhou o resgate, confesso que foi em Ekapol que pensámos mais.
Não conseguimos deixar de fazer um paralelismo entre este jovem adulto de 25 anos e a nossa condição diária enquanto animadores adultos do Corpo Nacional de Escutas. E talvez por isso, para ele canalizámos as nossas preces mais íntimas.
Ekapol não é o treinador da equipa. É um assistente do treinador que, no dia 23 de junho, não podendo haver treino porque o treinador Nopparat não podia estar, foi trabalhar o espírito de equipa com os rapazes para a zona das grutas, onde havia quedas de água propícias a um ambiente de reflexão.
O resto da história já se conhece. Os 12 rapazes e Ekapol entraram na gruta e, depois, não conseguiram sair. Foram localizados a 2 de julho e tiveram de ser resgatados da maneira que todos acompanhámos.
O jovem Ekapol foi imprudente ao ter permitido que se ignorasse e ele próprio ignorado a placa que proibia o acesso à gruta em época de monções. Podemos fazer esse juízo e outros que não o inibem de graves responsabilidades. Mas a pergunta que subsiste é: Quantas vezes já fomos Ekapol no trabalho com as nossas unidades? E quantas vezes fomos Nopparat na gestão das nossas equipas de animação?
Ekapol é um dirigente em formação, ou o que antigamente chamávamos um “caminheiro em comissão de serviço”. Mas Ekapol poderia ser, também um dirigente formado e tarimbado… como Nopparat… Como Nopparat poderia ser um dirigente que assumiu a chefia de uma equipa de animação, para cuja missão não tem tempo ou motivação momentânea.
Estas situações e muitas vezes o falarmos de situações como estas pode sugerir que há um apelo à cautela e uma espécie de sugestão de inação – que é sempre a maneira mais eficaz de evitar um risco. Mas não. Não é essa a ideia desta memória.
O risco é algo que temos de ter sempre presente na nossa ação como educadores, especialmente num domínio, como é o do escutismo, em que há necessidade de um contacto com a natureza, da promoção da autonomia dos jovens e a exaltação da responsabilização pela cooperação. Mas não nos deve tolher. Não nos deve impedir de ajudar os jovens e de lhes dar as ferramentas necessárias para a sua felicidade.
Temos de estar preparados para evitar os riscos desnecessários e desproporcionados. Temos de ter consciência do impacto das nossas decisões e do peso da responsabilidade de ter crianças e jovens a cargo em situações de algum risco natural. Mas não deixar de sonhar e de querer fazer a diferença, proporcionando-lhes oportunidades de crescimento ímpares.
O nosso apelo, por outro lado, ao assumir que todos somos Ekapol, vai no sentido, de, para além de tudo isto, do óbvio, estarmos preparados para, na dificuldade – presos na gruta -, termos capacidade mental e anímica para ultrapassar o obstáculo, para resistir, para ajudar os jovens a dirimir a dificuldade. E depois, cá fora, conseguirmos ter a esperança e a tranquilidade de aceitarmos que damos o melhor de nós, falhamos mas, sem medo, compreendemos a missão que nos é confiada com zelo e responsabilidade.
Nota:
Este texto foi escrito para a Revista Flor de Lis e publicado na edição de Setembro de 2018 como Editorial. A intenção do texto passa, como se percebe, pelo paralelismo entre Ekapol e um dirigente escuteiro ou um candidato a dirigente. E a necessidade que têm de, perante uma adversidade, ter ginástica psicológica para a ultrapassar.
No entanto, acredito que o mesmo poderia ser dito e escrito em relação a qualquer educador. Como um professor. Fica um sermão, hoje Dia Mundial do Professor, para reflexão.
[2432.]De lenço ao pescoço #9420
Sermões de diretor #1817