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caminhoFaz hoje dez anos que fiz o meu primeiro caminho de Santiago. O Caminho Português, desde Valença… o clássico, feito por grande número de tugas da minha idade. Há dez anos não era significativo o número de pessoas que fazia ou já tinha feito o caminho português. Tive alguma dificuldade em arranjar as credenciais, em ter acesso ao percurso, até em ter albergues no caminho. Ainda não era moda.

A minha primeira decisão de fazer o Caminho tinha sido tomada em 1997, na altura em que entrei na Universidade… há vinte anos, portanto. No meu quarto, durante todo o tempo em que estive a estudar, o mapa das estradas com o caminho português de Santiago, desde Coimbra, esteve pendurado como cartaz do meu quarto de estudante de Coimbra.

A decisão de o fazer, mesmo, foi feita na cumplicidade de uma amizade que se ia criando, entre mim, o Nuno João e a Rita… a caminho de um ACANAC onde de uma forma absolutamente intrépida assumimos fazer o que nada (bom senso algum) justificaria que fizéssemos… A decisão foi tomada na perspectiva do que fariamos depois de virmos do ACANAC… ir à Dinamarca… ou ir fazer o Caminho. Optámos pela mais barata… era a noite de 7 de julho de 2007… e eu saía apressado do casamento do meu primo Filipe para rumar às Idanhas.

O Caminho foi feito da pior maneira possível. Saímos de Coimbra, de comboio para Valença, num dia de 8 de agosto de calor tórrido, ainda sem termos descansado de uma semana louca de ACANAC. Pensávamos que descansaríamos no caminho. Os três, com o Simão, chegámos a Valença e alapámos num restaurante para comer e beber e comemorar o aniversário do Nuno João. Só depois começámos a andar.

A definição das etapas foi apenas mais uma anormalidade… Quisemos sair de Valença às 16h e ir dormir a Redondela… chegámos a Porriño destruídos… e como o meu calçado era uma porcaria… outra anormalidade… e na mochila levava tudo o que não precisava, outra anormalidade… começou logo aí o desatino.

No segundo dia, armados em duros, levantámo-nos tarde e em vez de paramos em Redondela fomos até Pontevedra…

A partir daí lembro-me de pouco… foi um inferno, um suplicio, uma loucura! Não nasci para sofrer… Nem foi para sofrer que aqui me meti.

Jurei para nunca mais… Mas na verdade nunca mais parámos… todos os anos… com a excepção de uma ou outra falha, compensada num ano com mais que uma ida… vamos a Santiago.

É uma peregrinação, de facto, ao interior de mim mesmo. Uma medida de sanidade mental e de higiene.