“Não são gigantes, são (só) moinhos de vento!”… Quantas são as vezes que fazendo ‘la triste figura‘ vemos grandes gigantes à nossa frente e nos dispomos a derrubá-los ferozmente dispostos a travar ‘a boa guerra‘… e afinal aquilo não passa de simples e monótonos moinhos de vento? Felizes os que – como eu – têm o seu Sancho Pança a seu lado, que pergunta humilde e sensato, pragmático e simples: ‘Quais gigantes?’ e avisa: Olha bem ‘que aquilo não são gigantes, são (só) moinhos de vento’. 

Obrigado aos meus Sanchos Pança que não me deixam enlouqucer… nem magoar… muito!

 

“Quando nisto iam, descobriram trinta ou quarenta moinhos de vento, que há naquele campo. Assim que D. Quixote os viu, disse para o escudeiro:

— A aventura vai encaminhando os nossos negócios melhor do que o soubemos desejar; porque, vês ali, amigo Sancho Pança, onde se descobrem trinta ou mais desaforados gigantes, com quem penso fazer batalha, e tirar-lhes a todos as vidas, e com cujos despojos começaremos a enriquecer; que esta é boa guerra, e bom serviço faz a Deus quem tira tão má raça da face da terra.

— Quais gigantes? — disse Sancho Pança.

— Aqueles que ali vês — respondeu o amo — de braços tão compridos, que alguns os têm de quase duas léguas.

— Olhe bem Vossa Mercê — disse o escudeiro — que aquilo não são gigantes, são moinhos de vento; e os que parecem braços não são senão as velas, que tocadas do vento fazem trabalhar as mós.”

Don Quijote de La Mancha, de Cervantes