O Corpo Nacional de Escutas, a associação dos escuteiros católicos portugueses, faz anos hoje. Faz 93 anos, precisamente.
Uma vida de grande serviço, com um papel determinante e reconhecido na sociedade portuguesa e na edificação de uma juventude portuguesa, consciente, cidadã. Formada, de forma integral, para a liderança, para a responsabilidade e para o ar serviço. Crente, fiel e fraterna.
Aos 93 anos de vida, o CNE apresenta-se numa encruzilhada. Um momento próximo do que viveu durante os tempos em que o Estado Novo o reprimiu de forma veemente – porque interessava eliminar as alternativas ao seu projeto político de juventude –, apesar de ser uma repressão não declarada, porque nunca deixou de ser uma associação de leigos e um movimento da Igreja Católica.
As respostas e as opções que precisa, hoje, de assumir, não são de natureza política, nem ideológica. O CNE sente-se confortável – como movimento católico – numa Igreja que se está a transformar, e prepara-se, sempre e em cada momento – e com grande entusiasmo nesta fase – para assumir o seu papel de pedra viva.
Os caminhos que o devem fazer parar e refletir são, para o CNE, absolutamente mundanos e seculares… Portugal, devido a uma grave crise demográfica está a perder jovens, e o CNE que até tem tido um ligeiro crescimento – o que expectável até seria o contrário –. Mas vamos observar isto durante quanto tempo?
Os jovens portugueses têm cada vez mais oferta de lazer, de estímulos exteriores à escola. Estará o CNE preparado para responder ao desafio de ser mais uma opção? De ser a opção integral? De não ser mais uma atividade? E terão os animadores adultos a preparação, os conhecimentos e as competências para entrar nesta ‘luta’ de ofertas e de estímulos?
Uma luta que se faz com abertura à comunidade. Aos órgãos de comunicação social. Ao mundo. Uma luta que passa pelo distanciamento da ideia de que os escuteiros são os meninos do coro da igreja, ou que apenas servem para engrossar as procissões – onde garantem o transporte dos andores e das lanternas – ou compõem as boas fanfarras.
Assumindo que somos a maior associação de jovens do país, que integramos ativamente a maior organização jovem do planeta. Assumindo que trabalhamos com jovens em mais de 1200 paróquias portuguesas, em todos os distritos e territórios. Assumindo a promoção do trabalho voluntário, da solidariedade, da igualdade e da justiça.
Renegando a ideia de que a escuridão nos protege, de que quanto menos souberem de nós mais resguardados estamos. Mostrando-nos com orgulho e garbo.
Em boa hora renovámos a nossa ação pedagógica. Fizemo-lo com atraso. Fizemo-lo de uma forma demasiado vagarosa. Mas fizemo-lo e estamos a precisar de o fazer novamente. Foi esse o compromisso que assumimos em 2010. Temos de ser consequentes com isso.
Partimos depois, para a renovação da formação dos adultos. Estamos a demorar muito a implementar o que decidimos e ainda não fomos capazes de assumir que vamos mesmo levar avante o processo até ao fim. Mas temos de o fazer. Também aqui temos de ser consequentes.
A renovação da prática associativa, através da revisão os normativos, o chamado “Projeto Torre”, é, por fim, um grande sinal e uma ótima medida para o terceiro passo que o sistema de renovação global do CNE exigia. Apelemos todos para que a sabedoria e a ousadia possam inspirar os intervenientes em todos este processo até ao final.
No próximo dia 4 de dezembro de 2016 há eleições para a Junta Central do CNE. Apresentaram-se – até agora… e já é visto como uma grande farturinha – duas candidaturas. A primeira a ser apresentada, em Novembro, foi a de Pedro Duarte Silva – secretário nacional pedagógico – e que assume o lema “Todos”. E agora, em Maio, apresentou-se a de Ivo Faria – antigo chefe regional de Braga – com o tema “Lais de Guia”.
Não conheço ainda os projetos de cada uma das propostas. Não conheço ainda as suas equipas. Tenho a vantagem de conhecer ambos, de já ter trabalhado com os dois e de, em certa medida, ir acompanhando as suas posições. Possuidores – ambos – de grandes qualidades, confesso que sinto muita dificuldade em perceber quais poderão ser as diferenças que têm um face ao outro. Depois de terem trabalhado tanto juntos, de serem os pais, ambos, de muitas das transformações de renovação que identifiquei e elogiei acima, integro o grupo daqueles que precisa de ser convencido para poder escolher em consciência. Para além dos feitios de cada um, parecem-me, ambos, criador e criatura – sem saber quem é o quê.
Parece-me que ainda não vai ser no mandato 2017/2020 que vou ver o CNE a discutir a participação dos caminheiros (adultos no escutismo) na vida associativa da organização – não podendo participar em pleno direito nos conselhos e, sequer, votar para os órgãos nacionais.
Parece-me que ainda não vai ser no mandato 2017/2020 que vou ver o CNE a fazer a nova revisão do Programa Educativo e a renovação da associação pedagógica regular e sempre em mutação. Assumindo a postura que constante reavaliação e readaptação ao mundo e aos jovens.
Parece-me que ainda não vai ser no mandato 2017/2020 que vou ver o CNE a assumir o seu papel na vida cívica, política e social do país, assumindo a defesa dos jovens, da família, dos seus valores e das suas opções e valores perante todos.
O CNE assinala hoje 93 anos. Sou escuteiro há 23. Comemorei os 70 anos do CNE em Vila Nova de Famalicão, como explorador e guia de patrulha. Vi, nesse dia de festa, a imensidão de um corpo que vibra o pulsar da juventude, e que faz eco desse pulsar… não tanto quanto eu gostaria, mas muito e de uma forma alegre e feliz.
Desde aí, e especialmente desde que sou dirigente – desde 2004 – oiço muitas vezes (e confesso que volte-e-meia a defendi) aquela velha máxima de que o escutismo se faz na base, na unidade e no agrupamento, e que pouco importa o que decidem, fazem ou dizem as estruturas dos níveis acima – sejam núcleos ou regiões… quanto mais na junta central.
Porque também já servi na estrutura nacional, sei que a preocupação é sempre com a base. Porque nunca saí da base, sei que a ação, inação e omissão da cúpula causa estrago em todo o edifício.
Por isso permaneço atento e preocupado. Hoje, porém, festivo!
Parabéns, meus queridos irmãos.
Lobo Irmão