Há, talvez, duas espécies de revolução: uma é a de mudar o mundo (…), a outra a de mudar cada pessoa (…), a revolução pessoal, que tem no Ocidente os exemplos de São Paulo ou São Francisco, e no Oriente o caso de Buda e de, quase em nosso tempo, Ramakrishna. (…) Quem sabe se não haveria ainda que trilhar novo caminho: o de, tomando toda a simplicidade, todo o despojamento, toda a disciplina, toda a dedicação dos acima citados – e bem sabendo de nossas inferioridades e limitações -, ninguém se retirar do mundo, como muitos deles fizeram, ninguém se recolher a convento algum, mas no século permanecer, com bom humor, paciência, entusiasmo, fé no triunfo e absoluta confiança nas qualidades do homem, quaisquer que sejam as aparências. Combater sem agressividade, esperar sem se tornar passivo, acreditar haver saída para tudo, conservar-se na marcha geral, embora escolhendo o seu próprio caminho e jamais esquecendo o seu rumo, abertos sempre a novas ideias e acolhedores de todos os estímulos. Sem internas quebras, navegar o que parece impossível, sem desânimo, adiantar a tarefa sem temer o paradoxo, dar toda a eternidade à corrida do tempo, sem pressa, nunca cessando a marcha.
Agostinho da Silva