papa

O preservativo papal

ANTÓNIO

Expresso, 5 de dezembro de 1992

A homenagem de hoje é ao mesmo reconhecido caricaturista português da actualidade, António, que nos brinda semanalmente no Expresso com a sua sátira. Esta foi a sua mais arrojada e contestada caricatura.

 

«O desenho aporcalhado.» Silva Resende in O Dia.

No dia 5 de Dezembro de 1992 na “Revista” do Expresso surge a controversa ilustração de António da habitual crónica de João Carreira Bom: o Preservativo Papal. Esta foi a polémica mais quente em que António se viu envolvido. Com este cartoon António procura criticar a interdição papal do preservativo, apesar da deflagração da SIDA. A reacção não foi imediata, mas três meses mais tarde a controvérsia explode quando um grupo católico organiza um abaixo-assinado de 20 mil assinaturas. Este movimento solicita à Assembleia da República a discussão da «execrável caricatura», «que ofende gratuitamente e grosseiramente» e move uma queixa à Alta Autoridade para a Comunicação Social (AACS). A caricatura de António correu mundo e deu origem aos mais variados artigos de solidariedade e de condenação. Na imprensa nacional, as opiniões flutuaram entre a defesa do direito à livre expressão e criação (defendido por personalidades como Baptista Bastos, Cid, José Augusto França, Herman José, Maria do Céu Guerra, Mário Viegas, Raul Solnado e outros) e a condenação da “mão maligna” de António.

A Polónia não se mostrou indiferente à caricatura lusitana: «António publicou no semanário Expresso uma caricatura repugnante. Desenhou o nosso compatriota mais ilustre com um preservativo no nariz.» in NIE.

Contudo, a AACS concluiu que «a caricatura não ultrapassou os limites postos pela lei vigente à liberdade de imprensa».