Assinala-se a 20 de março de 2015 o Dia do Ensino Profissional. Poderia ser mais um dia no calendário das datas a festejar, mas – assim nos parece – pode ser um dia de reflexão sobre o que é o Ensino Profissional, sobre as suas fragilidades e vantagens, sobre o que ainda pode ser feito para colocar este tipo de formação ao serviço das comunidades, ao serviço das empresas e ao serviço dos jovens portugueses.
O ensino profissional permite aos jovens portugueses o melhor de dois mundos: as competências técnicas e científicas para uma entrada imediata no mundo do trabalho e, ao mesmo tempo, todos os conhecimentos para o prosseguimento de estudos no ensino superior ou politécnico. Há dados cientificamente comprovados que atestam que, nas áreas onde a componente técnica é mais forte – como as engenharias, por exemplo – os alunos que fizeram a formação secundária nas escolas profissionais têm mais sucesso do que os que frequentaram o ensino regular. Não é de espantar, porque todo o ensino profissional é feito no pressuposto da aliança perfeita entre a componente teórica e a experimentação, o aprender fazendo que só a prática permite.
No caso concreto da Escola Profissional Vasconcellos Lebre, a estatística dos últimos 17 anos, permite-nos declarar que dos mil alunos que frequentaram a escola e concluíram o seu curso, 21,28% destes prosseguiram estudos. Dos que preferiram entrar imediatamente no mercado de trabalho, 79,05% começaram a trabalhar directamente na sua área de formação. Temos, apenas (mas sempre infelizmente) 22 numa situação de desemprego – nove dos quais na iminência de encontrar o seu primeiro trabalho. Na prática e em resumo, temos 97,57% de casos de sucesso, nos últimos 17 anos.
Por outro lado, o ensino profissional, indirectamente, mas definitivamente porque isso reside na sua génese, desenvolve nos alunos uma autonomia incomparavelmente superior à dos 60% de jovens que frequentam o ensino regular. O ensino profissional desenvolve o sentido de empreendedorismo, de livre iniciativa, que vai resultar em atitudes de auto-estima e independência importantes no futuro de um país. É muito significativo o número de diplomados do ensino profissional que se estabelecem por conta própria criando empresas que vão muito além do auto-emprego.
Os jovens diplomados do ensino profissional compreendem regras, normas e valores organizacionais, porque fazem uma parte muito relevante da sua formação em contexto de trabalho nas empresas, no mundo real, consciencializando-os para a importância da actividade laboral, permitindo-lhes adquirir experiências, aplicar conhecimentos, desenvolver relaçőes interpessoais. Tudo isto com uma grande vantagem: Este contacto na empresa é sempre monitorizado por um professor da escola, que acompanha os estágios, que supervisiona o desenvolvimento do aluno ao longo de três anos, que estabelece métodos e metas sistematizados e personalizados para cada aluno, em cada empresa.
Devido à cultura subjacente à génese das escolas profissionais, mas também por uma questão de “sobrevivência” as escolas profissionais portuguesas, de uma maneira geral, promovem um acompanhamento aos alunos que não termina com a conclusão do curso, ou com a entrega do diploma. No caso concreto da Escola Profissional Vasconcellos Lebre, o Serviço de Psicologia e Apoio à Inserção na Vida Activa, coordenado por um psicólogo vocacional, acompanha os alunos na procura de emprego, na intermediação entre quem procura emprego e quem procura trabalhadores, recolhendo e analisando um vasto conjunto de informação como o tipo de relação contratual, expectativas de permanência, progressão na carreira, disponibilização de formação contínua. Tudo isto se traduz num importante acompanhamento pedagógico e técnico muito relevante.
Todos estes argumentos, facilmente comprováveis, serão relevantes na hora da escolha, perante o tenso momento que é imposto aos jovens portugueses de lhes ser exigido que conheçam uma vocação que provavelmente ainda nada, nem ninguém, sequer desvelou. Que saibam o quer querem ser, quando ainda nem sequer sabem o que são. Que definam o futuro quando ainda só lhes foi ensinado a viver o presente, cada momento, o imediato.
Para os pais, numa fase da vida nacional onde em cada família se tem de optar entre o óptimo e o possível, entre o desejo e a realidade do custo de vida, o ensino profissional apresenta, ainda, um derradeiro argumento. O ensino profissional em Portugal, porque é completamente financiado por fundos comunitários é completamente gratuito. E quando se diz completamente gratuito não se está a exagerar, ou a fazer qualquer espécie de analogia com o que constitucionalmente parece estar consagrado para o ensino público. Não. Estamos perante uma realidade em que o custo para as famílias é zero.
Na EPVL temos cursos de Nível IV – chamados Profissionais – que são completamente financiados pelo POPH. Este financiamento comunitário inclui o pagamento do funcionamento da escola e, também, financiamento aos alunos, nomeadamente o subsidio de alimentação, o subsidio de transporte, uma Bolsa de Profissionalização – entregue pelo estágio – e, no caso dos alunos apoiados pela Acção Social ainda, uma Bolsa de Material Escolar. Dito de outra forma, a escola oferece aos alunos o almoço, o transporte, uma remuneração pelo trabalho em estágio e, se for necessário, o material escolar. Uma das viagens de estudo anual dos alunos é, também, integralmente suportada pela escola.
No caso dos alunos deslocados, a EPVL garante ainda, sem qualquer custo, o alojamento – e despesas de gás, água e energia –, o jantar e o pequeno-almoço. De referir ainda que a EPVL assume todas as despesas com os materiais necessários para as Provas de Aptidão Profissional – ferramentas, material e toda a tecnologia para a construção física e material da prova. Situação que nalguns casos assume valores muito significativos e que se imputados ao aluno resultariam num investimento na casa das várias centenas de euros.
Neste dia do Ensino Profissional, e perante várias tentativas de descredibilizar as grandes conquistas que esta via profissionalizante conquistou para o país e para o desenvolvimento das comunidades, interessa clarificar, apresentar, e demonstrar as virtudes de um caminho que forma jovens para o trabalho e para o prosseguimento de estudos, que garante emprego e a consequente remuneração e desenvolvimento da economia, que acompanha os jovens e lhes dá apoio, conselho e amparo nos momentos chave da sua via, que garante às famílias uma educação de qualidade e gratuita, completamente gratuita, com a consequente poupança de recursos.
Hoje, em Portugal, no final de um período de crise económica, financeira e de valores, todos os indicadores, todos os rankings e avaliações, cotações e estatísticas indicam e demonstram que “Ser Profissional Vale Mais!”.
Nuno Castela Canilho
Diretor-geral da Escola Profissional Vasconcellos Lebre – Mealhada