É com muita alegria que nos voltamos a
encontrar, neste mesmo espaço, para a comemoração de mais um aniversário da
Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Mealhada, o octogésimo
sétimo aniversário. Fazemo-lo hoje com a especial circunstância de procedermos
à bênção de duas viaturas – uma nova e uma reconvertida –, de entregarmos
Medalhas de Dedicação e Assiduidade a 14 bombeiros do nosso corpo activo e, ainda,
de entregarmos a Carta de Missão ao nosso Comandante. Tudo razões para
festejar, para nos alegrarmos e para, daqui, e mais uma vez, reconfirmarmos o
compromisso, o contrato sagrado que temos com os mais de onze mil cidadãos que
constituem a nossa área de intervenção, e as comunidades do concelho da
Mealhada.
Muito obrigado pela vossa presença, a
todos vós e a cada um em especial. Permitam-me que vos abrace primeiros aos
nossos bombeiros – a todos, os do ativo, e de maneira muito calorosa os do
Quadro de Honra e do Quadro de reserva – depois aos nosso sócios, aos nossos
autarcas, e aos nossos amigos, a todos eles sem excepção, onde incluo,
naturalmente os familiares dos nossos bombeiros.
Antes de entrarmos neste pavilhão, e
depois de termos benzido duas novas viaturas e de termos homenageado os
bombeiros falecido – os nossos e todos os outros – inaugurámos a galeria dos
fundadores da nossa associação e a galeria dos presidentes da mesa da
assembleia-geral. Lembro-me de um texto assinado pelo nosso saudoso fundador
João Saraiva – que apesar de ter dado a esta casa tanto e de maneira tão forte
não tinha uma única fotografia nesta casa – dizer que não se tinha feito, ainda
justiça ao trabalho diligente e dedicado de outro fundador, o senhor Augusto
Ramalheira. Estou convencido que hoje fizemos o pedido de João Saraiva e no
lugar mais destacado e bonito do nosso quartel, temos as fotografias dos três
fundadores, o trio de amigos que se juntava ao almoço na Rua Costa Simões, três
jovens caixeiros, de vinte e poucos anos, que no dia 26 de julho de 1927, com o
apoio do presidente da Câmara, o Padre Breda, fundaram esta grande associação,
a maior do concelho.
A organização de Augusto Ramalheira, a
operacionalidade e os conhecimentos de quem já tinha sido bombeiro, Bernardino
Felgueiras, e o espirito dinâmico e congregador de João Saraiva deram o pontapé
de saída para tudo isto, que ao longo de 87 anos tanto cresceu e tanto serviu. Nos filhos, o senhor Ramalheira e Dr.
Mário Saraiva, aqui presentes, e nos netos, entrego o meu muitíssimo obrigado.
Inaugurámos, tanto, noutro acto de
justiça, a galeria dos presidentes da mesa da assembleia-geral. Que no salão
nobre passam a pontificar no terreiro sagrado onde se reúnem os sócios e em
muito mais ocasiões a comunidade ativa desta terra. A assembleia-geral,
presidida por tão grandes figuras, representa o plenários dos quase 3000 sócios
desta casa, e a democraticidade que a
sustenta e superintende. Destaco, nessa galeria – não me vão levar a mal, nem
me vai levar a mal o Dr. Branquinho de Carvalho aqui presente, o único
sobrevivo da galeria – a figura do Dr. Manuel Oliveira Andrade. Um homem que
foi presidente da mesa da assembleia-geral desta casa durante pelo menos cinco
décadas. Que deixou de o ser três dias antes de falecer, que fez da inauguração
deste mesmo quartel, neste mesmo pavilhão, a sua ultima aparição publica, e
que, infelizmente não tinha ainda uma memória nesta casa.
Não me leva a mal o senhor presidente da
Câmara se lhe pedir que reponha a justiça moral desta nossa Linda Mealhada
Linda e que, uma vez que a Rua Manuel Andrade se transformou num carreirito que
une a passagem subterrânea ao Hospital da Misericórdia, ajude a encontrar uma
outra artéria a quem possa ser dado o nome deste mealhadense que tanto serviu a
Mealhada e as suas gentes. Considere este meu pedido como o presente de
aniversário que nos podia dar hoje.
Caríssimos bombeiros, caríssimos amigos.
Entregamos hoje a Carta de Missão ao nosso
comandante Nuno Antunes João. Será estranho fazermos sessão solene da entrega
de uma carta de missão, quando não fizemos da tomada de posse. É capaz de ser
verdade. Mas entendemos que não deveríamos esperar pela tomada de posse e
fizemo-la quase imediatamente, em 19 de abril. E consideramos que é muito importante
a figura da Carta de Missão, entregue pela direcção ao seu comandante, que ele
aceita e à qual se compromete, num contrato solene com a associação e com a
população que por ela é servida. Esta figura da Carta de Missão foi introduzida
na alteração do quadro legislativo de 2012, e encarna bem a imagem do
comandante que se apresenta como um líder, com um plano e uma estratégia, um
rumo e uma missão, assumido através de um compromisso.
E a falta que faz aos portugueses a
assunção de valores assentes em compromissos. A importância que tem a lealdade
a compromissos.
Nuno Antunes João é um homem de
compromissos, de valores. É alguém que acredita no valor do trabalho, e na
liderança pelo exemplo. Um homem que tem dado mostras diárias de
disponibilidade, de simpatia, de proximidade com as pessoas, com carisma,
liderança e um fortíssimo espirito de serviço.
Senhor comandante, a missão que lhe é
confiada não é fácil – até porque se fosse fácil não seria para si – mas
acredito que seja desafiante e que a vai cumprir com brilhantismo e capacidade.
Ao longo dos últimos doze meses – desde o último
aniversário – vivemos neste quartel momentos de grande transformação. Nomeámos
um novo comandante e atravessámos uma época florestal em que estivemos em todos
os mais relevantes teatros de operações. Vimos bombeiros morrer e vimos a
população a mostrar a sua solidariedade e apoio incondicional. Alterámos
profundamente esquemas de trabalho, horários, esquemas de voluntariado e
serviço. Sofremos, em 11 de fevereiro, quando uma viatura nossa ficou destruída
e tememos pela sobrevivência de um bombeiro nosso. Foi um ano intenso, muito
intenso, mas que serviu para mostrar de que fibra são feitos os nossos
bombeiros.
Senti cooperação, senti que os nossos
bombeiros sentem esta casa e esta causa, senti que são solidários, que ajudam,
que estão prestáveis e prontos a dar tudo de si. Obrigado a todos os bombeiros,
especialmente aqueles que se mobilizaram para ajudar em campanhas de angariação
de fundos – especialmente na freguesia da Vacariça, da Mealhada e de Ventosa do
Bairro e no Carnaval –, aqueles que nos apresentaram sugestões de iniciativas,
que vestiram a camisola quando mais precisámos.
Muito obrigado.
Não posso deixar de apresentar uma palavra
de elogio e de agradecimento a todos os que gostam dos Bombeiros. Às centenas
de pessoas que se dirigiram ao quartel para entregar alimentos quando no verão
passado o país ardia e chorava a morte de oito bombeiros. Aos que nos
telefonaram a oferecer comida e dinheiro. E, de modo muito especial aos que
connosco colaboraram – com trabalho e produtos – na Feira de Artesanato e
Gastronomia. À equipa liderada por Joaquim Ricardo, um bombeiro do quadro de
honra que mostra ser um homem extraordinário e à sua equipa fantástica – com
bombeiros, antigos bombeiros e pessoas que nunca foram bombeiros – e que em
cada ano garantem um financiamento fundamental e estruturante a esta
associação. A todos eles e a cada um deles, fica o nosso humilde e sincero
obrigado.
Os tempos não são fáceis. Nunca o foram, e
o futuro desta casa tem muito de estratégia, gestão e apoio. O nosso mandato
vai rigorosamente a meio. A metade que falta pode ser a mais fácil ou a mais
difícil. Será a mais fácil se nos limitarmos a gerir os meios, até porque
muitas das medidas difíceis estão tomadas e começam a produzir os primeiros
frutos. Mas poderá ser a mais difícil se nos dispusermos a fazer o que falta
fazer, a fazer o que a associação e a comunidade precisa que seja feito. Como
já assumimos, o desafio que nos é apresentado neste momento é o da remodelação
estrutural deste quartel. Para isso precisaremos de muito mais do que boas
intenções. Precisamos de massa cinzenta, precisamos de sentido critico para
perceber para onde queremos caminhar. E depois precisa de operários, de quem
esteja disponível para avançar, para trabalhar, para construir. O caminho daqui
para a frente tem de ser estudado, pensado, calculado, para ser bem trilhado.
Nós estamos disponíveis, mas não o conseguiremos fazer sozinhos.
Hoje, como há um ano, a palavra final da
direcção a que presido – uma direcção em que a média de idades é de pouco mais
de um terço da idade da associação – que vos quero deixar é de esperança. Somos
uma associação que apesar dos quase 90 anos é jovem, com muita vontade de
combater os fogos da vida de frente, com uma vontade grande de Servir com
abnegação e altruísmo, com uma enorme vontade de estar ao lado das pessoas que
precisam de nós e de quem gostamos tanto!
Vivam os Bombeiros da Mealhada,