O ódio expresso por Guerra Junqueiro leva-o a escrever a última quadra, que se viria a revelar profética, não faltando quem a interprete como um incentivo ao regicídio (Papagaio real, diz-me, quem passa? – É alguém, é alguém que foi à caça do caçador Simão!…) [Em Simão leia-se o Rei D. Carlos].
O regicídio viria a ocorrer no dia 1 de Fevereiro de 1908, quando as armas de Manuel Buiça e de Alfredo Costa matam o Rei D. Carlos I, vindo de Vila Viçosa onde praticara a caça, e o Príncipe Real D. Luís Filipe, em pleno Terreiro do Paço.” Blogue Alfobre de letras [aqui].
O CAÇADOR SIMÃO
Jaz el-rei entrevado e moribundo
Na fortaleza lôbrega e silente…
Corta a mudez sinistra o mar profundo …
Chora a rainha desgrenhadamente …
Papagaio real, diz-me quem passa?
— É o príncipe Simão que vai à caça.
Os sinos dobram pelo rei finado …
Morte tremenda, pavoroso horror!…
Sai das almas atónitas um brado,
Um brado imenso d’amargura e dor …
Papagaio real, diz-me, quem passa?
— É el-rei D. Simão que vai à caça.
Cospe o estrangeiro afrontas assassinas
Sobre o rosto da pátria a agonizar …
Rugem nos corações fúrias leoninas,
Erguem-se as mãos crispadas para o ar!…
Papagaio real, diz-me quem passa?
— É el-rei D. Simão que vai à caça.
A Pátria é morta! A Liberdade é morta!
Noite negra sem astros, sem faróis!
Ri o estrangeiro odioso à nossa porta,
Guarda a Infâmia os sepulcros dos Heróis!
Papagaio real, diz-me, quem passa?
— É el-rei D. Simão que vai à caça.
Tiros ao longe numa luta acesa!
Rola indolentemente a multidão …
Tocam clarins de guerra a Marselheza …
Desaba um trono em súbita explosão!…
Papagaio real, diz-me, quem passa?
— É alguém, é alguém que foi à caça
Do caçador Simão!…