Governo da República – dando cumprimento a uma estratégia de
“limpeza” dos sorvedouros do Estado – divulgou, no dia 2 de agosto, o
relatório de avaliação das fundações “nacionais ou estrangeiras, que prossigam os seus fins em território nacional, com vista a avaliar o respetivo custo/benefício e viabilidade financeira e decidir sobre a sua manutenção ou extinção, sobre a continuação, redução ou cessação dos apoios financeiros concedidos, bem como sobre a manutenção ou cancelamento do estatuto de utilidade pública”. Era uma avaliação aguardada e, assim nos parece, importante.
 
Os resultados relativos à Fundação Mata do Bussaco é que não foram nada animadores. A Fundação criada em 2009 para gerir a Mata Nacional do Bussaco foi classificada com a nota de 44 pontos, numa escala de 1 a 100.
A nota – os 44 por cento – é baixa. É, naturalmente, negativa. E seria desonesto dizer ou tentar demonstrar o contrário.
Naturalmente que há atenuantes, que, de certa maneira, relativizam este valor. A Fundação Mata do Bussaco (FMB) começou a trabalhar em 2010 e a avaliação do Governo ponderou o trabalho realizado em 2008, 2009 e 2010. Ou seja, o trabalho de arranque de um ano da instituição foi avaliado como o de três anos de pleno funcionamento.
Como já se disse, a nota é baixa. Mas também não fará sentido colocar agora em causa o trabalho feito pela FMB nos últimos três anos e resumi-lo a este valor. Esta solução – a da fundação – pode ter problemas, que os tem, pode ter deficiências, que as tem, pode estar a ser monopolizada por um setor, a sua ação e alegados feitos quotidianos pode estar a ser sobrevalorizada, mas que não restem dúvidas de que é a melhor solução até agora apresentada e posta em prática para a gestão de um património que estava a degradar-se, que estava abandonado pelo Estado, que estava refém da burocracia e do nepotismo incompetente da administração central sem rosto. Uma entidade gestora com uma avaliação de 44 por cento é negativa, mas é muitissimo melhor do que a gestão que existia antes.
A avaliação do Governo, considera que, até 2010, ao nível da “Eficácia” (especialmente no “custo eficácia das principais actividades e produtos e/ou serviços prestados” a avaliação é muito má. E que quanto a “Sustentabilidade”, o resultado não é nada famoso. Mas quanto a “Pertinência/Relevância”, ou seja, quanto à necessidade desta estrutura, o resultado é óptimo, situando-se na casa dos 70 por cento.
O “estado de graça” da FMB pode ter acabado, e é tempo de terminar com os elogios rasgados e acríticos, que misturam a exaltação da necessidade da instituição com o mérito pessoal dos gestores e técnicos – até porque não há só bestiais e bestas. Mas é exagerado colocar, agora, tudo em causa. Sem dramatismos, mas com muita humildade por parte de quem está à frente da FMB, com honestidade intelectual, com sentido de responsabilidade e de Serviço fará sentido avaliar o que está a correr menos bem, congregar sociedade civil e a comunidade na definição de rumos, despolitizar e despartidarizar e, acima de tudo, congregar esforços para evitar que algum iluminado se lembre de extinguir a Fundação Mata do Bussaco, especialmente em nome de uma avaliação que embora necessária, menoriza um aspecto essencial que é o de que pode ter problemas, mas é a melhor forma encontrada e aplicada de gerir aquele Património.
Saibamos todos ser críticos, mas honestos, austeros, mas eficazes, retos, mas muito práticos!
Editorial do Jornal da Mealhada de 15 de agosto de 2012