Mealhada é concelho há 175 anos
No próximo domingo, 6 de novembro, o Município da Mealhada assinala o 175.º aniversário da sua criação. A Rainha de Portugal, D.Maria II, assinava, a 6 de novembro de 1836, o Decreto que reduzia de 871 para 351 os concelhos do país. Extinguindo a 541 municípios e criando 21. O concelho da Mealhada faz parte desses concelhos criados, enquanto que o concelho de Casal Comba, por exemplo, fazia parte dos extintos. O concelho da Vacariça – de que fazia parte a Mealhada – só viria a ser extinto em julho de 1837.
Há 175 anos Portugal vivia uma situação política muito complexa. A Guerra Civil – entre Liberais e Absolutistas – havia acabado há dois anos e, mesmo entre os vencedores, os Liberais de D.Pedro IV e D.Maria II, não se verificava entendimento sobre que Constituição devia o país obedecer, se à Carta de 1826 – como entendiam os “Cartistas” –, se à Constituição de 1822 – como preferiam os “Setembristas”. Mesmo assim foi possível a Governos diferentes e sucessivos – liderados pelo Duque de Saldanha, cartista, por José Jorge Loureiro, pelo Duque da Terceira, cartista, pelo Conde de Lumiares, setembrista, pelo Conde do Vimioso, cartista, e pelo Marquês de Sá da Bandeira, setembrista – levar a cabo uma reforma administrativa profunda e intensíssima que, 175 anos depois, de um modo geral, ainda perdura.
O pai da criança, por assim dizer, será Rodrigo Fonseca Magalhães, cartista, que, como Ministro dos Negócios do Reino, no governo do Duque de Saldanha, consegue aprovar a Reforma Administrativa de 18 de julho de 1835 – que converteu o mapa das paróquias religiosas em estruturas civis e políticas também conhecidas como freguesias. O mapa administrativo dos concelhos – com as referidas extinções maciças – decorre desta reforma, mas já é assinado por Mouzinho da Silveira, que sucede a Rodrigo Fonseca Magalhães na pasta dos Negócios do Reino, já no Governo do Marquês de Sá da Bandeira.
Como terão os nossos antepassados convivido com semelhantes transformações e num ambiente de crise económica, financeira e principalmente política, como na altura se vivia?
Foi criado o concelho da Mealhada em 1836, mas só em 1853 é que o concelho – tal como o conhecemos hoje – se constituiu verdadeiramente. Em 1836, o concelho da Mealhada constituía-se com as freguesias de Casal Comba, de Ventosa do Bairro, de Tamengos e de Aguim, e, ainda, com o lugar da Mealhada. Nessa mesma altura, continuava a existir o concelho da Vacariça, que congregava as freguesias da Vacariça – mas sem a Mealhada –, de Luso e de Vila Nova de Monsarros. A freguesia da Pampilhosa fazia parte do concelho de Coimbra e a freguesia de Barcouço fazia parte do concelho de Ançã. Em 1837, extingue-se o concelho da Vacariça e as freguesias da Vacariça e de Luso são incorporadas no concelho da Mealhada. A freguesia de Vila Nova de Monsarros vai para o concelho de Anadia. Só a 31 de Dezembro de 1853 é que Aguim e Tamengos passam para Anadia e Pampilhosa e Barcouço são incorporados no concelho da Mealhada. Em 1855, a 24 de outubro, Mealhada troca com Mira e passa do distrito de Coimbra para o de Aveiro.
Permanecendo no encalço da História, interessa reter que só em 24 de junho de 1944 é que é criada a freguesia da Mealhada – que se descola da freguesia da Vacariça –, e em 23 de abril de 1964 é criada a freguesia da Antes, que se desagrega da freguesia de Ventosa do Bairro.
Cento e setenta e cinco anos de vida é um acontecimento. Assim nos parece. Uma vida com alguma demora na consolidação administrativo-politica (que tem, apenas, 158 anos). Uma vida que sofreu influências significativas no sentido de serem acentuadas diferenças – entre monárquicos e republicanos, entre conservadores e progressistas, entre isto e aquilo…
Mas que é hoje o concelho da Mealhada? Será que interessa a alguém saber responder a esta questão? Para além de uma estrutura administrativa, é uma comunidade? Há elementos agregadores entre os que são naturais ou os que não o sendo residem neste torrão “de verde e ouro”? Há espaços de identificação coletiva? Há sinais de identificação comunitária? Por quantas gerações continuará a custar a tantos assumirem o gentílico ‘mealhadense’, mesmo sendo naturais de Luso ou da Pampilhosa? Quantas mais eleições serão precisas para na Assembleia Municipal da Mealhada alguém deixar de pensar e de falar no seu Luso, na sua Pampilhosa, na sua Antes, para passar a defender, intransigentemente, como lhe compete, os interesses coletivos, comuns e gerais do nosso concelho, globalmente?
Por outro lado, quais são as nossas principais riquezas, os nossos motivos de orgulho, as nossas potencialidades? Será que as conhecemos? Será que as valorizamos? Será que estamos dispostos a pensar nelas para além do nosso quintalinho?
Não temos conhecimento da preparação de nenhuma comemoração especial dos 175 anos do concelho da Mealhada. Lamentamos, mas não estranhamos. No Jornal da Mealhada procuraremos abordar neste mês de novembro esta temática, estes propósitos, esta comemoração. Como sempre, estamos recetivos aos contributos dos nossos leitores: Com um desejo de “Parabéns!” ou com a sua própria visão do que somos e do que deveremos ser no futuro.
Nota sobre a questão da freguesia da Antes
Comemorar 175 anos de concelho é refletir sobre o nosso mapa politico-administrativo. Passado, presente e futuro devem andar de braços dados, especialmente naqueles momentos em que interessa saber quem somos para podermos fazer valer os nossos pontos de vista. Sentimo-nos, naturalmente, obrigados a falar na questão da continuidade da freguesia da Antes e a declararmo-nos – pessoal e institucionalmente – ao lado dos que pretendem lutar, de modo inteligente e racional, para a criação de um argumentário sério para a demonstração do interesse da viabilidade da autarquia.
No nosso entender – e assim fica dado o nosso primeiro contributo – o busílis da questão passa pela procura de argumentos no sentido de conseguir demonstrar que a freguesia da Antes é uma freguesia rural e não uma freguesia urbana, ou moderadamente urbana. Se a classificação da freguesia for, novamente, a de Rural, a Antes preenche os requisitos para continuar.
Assim – para além da recolha dos ecos da voz e dos sentimentos do Povo – devemos concentrar-nos na análise dos principais indicadores que possam ajudar a provar a ideia de que a freguesia da Antes é Rural. Sentimos, portanto, dever sugerir o estudo e análise critica dos dados relativamente aos tipos de atividade profissional instalados na freguesia, aos índices e tipo de ocupação dos solos, entre outros.
Editorial do Jornal da Mealhada de 2 de novembro de 2011
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