20 de maio de 2002

DIA DA INDEPENDÊNCIA DE TIMOR LORO-SAE

Gostava de voltar a Timor. Nunca estive em Timor, mas gostava de lá voltar. Como português – com 13 anos em 1992, na altura do Massacre de Santa Cruz, com 20 anos em 1999 e promotor de uma vigilia de solidariedade, em frente à Câmara da Mealhada – sinto Timor com a mesma saudade de quem lá esteve, gostou e quer voltar.

A malta da minha geração – e especialmente a malta que gosta de Política – aprendeu a conhecer Timor com alguma profundidade. Os nomes de Xanana – ainda como comandante da FRETILIN, no mato, depois preso e torturado e julgado -, de Ximenes Belo – que já tive o grande orgulho de entrevistar -, de Ramos Horta, de Manuel Carrascalão, de Sérgio Vieira de Melo, não são estranhos, apesar de estarem nos antípodas… Lugares como Ermera, Liquiçá, Manatuto, Baucau, Dili são familiares, apesar de não os saber distinguir à vista! Aprendemos a traulitar os versos da música dos Trovante – na voz de Luís Represa, na letra de João Gil e João Monge – como se fossem um hino!

«Lavam-se os olhos, nega-se o beijo/Do labirinto escolhe-se o mar/No cais deserto fica o desejo/Da terra quente por conquistar. Nobre soldado que vens senhor/Por sobre as asas do teu dragão/Beijas os corpos no chão queimado/Nunca terás o nosso perdão».

Mas hoje é Veneris dies e as mulheres são quem mais ordenam aqui por casa!

E o que sofreram as mulheres timorenses, essas mulheres mauberes!

«Salgas de ventres que não tiveste/Ceifando os filhos que não são teus/Nobre soldado nunca sonhaste/Ver uma espada na mão de Deus»

Mulheres que apoiaram os filhos, os maridos e juntaram-se à luta. À luta nas montanhas, à luta nas comunidades – aparentemente subordinadas -, à luta no apoio aos presos e aos torturados, à luta na oração como último reduto de uma esperança negada!

«Da cruz se faz uma lança em chamas/Que sangra o céu no sol do meio dia/Do meio dos corpos a mesma lama/Leito final onde o amor nascia»

“LEITO FINAL ONDE O AMOR NASCIA”

As mulheres, essas heroínas, fazedoras de pátrias. Ou como dizia essa grande poetisa Natália Correia: Qual Pátria? Mátria! Mátria é que é verdadeiramente esta massa que somos!

Para o ano já fazem 20 anos o massacre de Santa Cruz. E 10 anos de Independência! Como o tempo passa!

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