Avaliando o Carnaval da Bairrada de 2011
O Carnaval Luso-Brasileiro da Bairrada de 2011 poderá ter sido o melhor de que há memória no sambódromo Luís Marques, na zona desportiva da Mealhada. Felizmente, já no ano passado tivemos a mesma afirmação, o que revela que o progresso qualitativo no maior evento cultural do concelho da Mealhada está em crescendo. As ameaças de mau tempo, de algum frio – especialmente na terça-feira – poderão, em parte, justificar a fraca participação de público, a que acrescentamos um patente desinvestimento na promoção externa do evento, por parte da organização.
De qualquer forma, a verdade é que as escolas se apresentaram melhor e de forma relativamente homogénea – como se viu nos resultados do Concurso de Escolas de Samba do Jornal da Mealhada –, na qualidade das fantasias, na exuberância da apresentação dos enredos, no cuidado com coreografias e musicalidade.
O Carnaval na Mealhada está cada vez melhor, é certo, e afirma-se como a referência nacional relativamente à vertente brasileira do carnaval português. Num tempo de crise financeira, em que aos promotores de marcas fortes se exige que primem pela diferenciação, através de uma especialização de alta qualidade, o Carnaval Luso-brasileiro da Bairrada é, de facto, o mais brasileiro de Portugal.
Tal como temos feito em anos anteriores, investimo-nos do direito de chamar a nós, também, de emitir a nossa opinião sobre a organização do cortejo.
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O percurso do sambódromo
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O percurso do desfile no sambódromo continua a ser um factor negativo no carnaval mealhadense. No final do Carnaval de 2009, apelámos à necessidade de serem tomadas medidas no sentido de ser alterado o percurso – eventualmente mudada a localização, e os dirigentes da Associação do Carnaval da Bairrada foram sensíveis ao apelo e à necessidade, e o percurso em 2010 teve um novo local de dispersão, o que se revelou como um aspecto positivo.
Em 2011 manteve-se o percurso, mas o esforço de melhoria deve continuar a ser implementado. Seria interessante que os organizadores do desfile e as escolas de samba ponderassem a possibilidade de encurtar o percurso, de o limitar a uma das retas do complexo – com notórias melhorias ao nível da propagação do som – e experimentassem fazer um “recuo da bateria”. Este sistema – possível no sambódromo mealhadense –, usado no Rio de Janeiro, permite que a bateria, a componente musical da escola, que lhe dá mais alegria, possa apresentar-se no primeiro quarto da escola, estacione numa reentrância do percurso, faça passar à sua frente toda a escola e se reintegre no cortejo à frente da alegoria.
Fica o contributo.
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O som e o atraso
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Em 2011, voltaram a não ser significativos os problemas com o som e com o atraso no início do desfile. Já havíamos verificado esta situação em 2009 e em 2010, e registámo-lo também este ano. Fazemos referência a este aspecto porque entendemos que, no que respeita à hora de início dos cortejos, se tratou, durante muitos e muitos anos, de um defeito crónico do Carnaval na Mealhada.
No domingo, no entanto, voltou a registar-se um longo tempo de intervalo entre a quarta e a quinta escola a desfilar, especialmente, na parte final do percurso. O problema poderá ter resultado da aliança de questões técnicas com a evolução da própria escola. A forma como cada escola se apresenta no desfile, e progride na avenida é uma questão técnica e é uma componente do espetáculo. Mas a espera não beneficia a apreciação do espetador, pelo que acreditamos que uma mudança nas características do próprio percurso – com a limitação a uma reta – beneficiaria, também, esta componente.
De qualquer forma, e sublinhamos, reconheça-se a capacidade de eliminar – esperamos que de vez – o problema do atraso no inicio do cortejo.
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Revista Abre-alas
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Enriqueceu, de sobremaneira, o espectáculo apresentado pelas escolas de samba – assim o garante o público espetador – o facto de existir um roteiro, um libretto, se se preferir, com a explicação do enredo e com uma breve apresentação do significado de cada uma das alas, destaques e diferentes figurantes de cada uma das escolas que desfilou. Essa publicação foi editada pelo Jornal da Mealhada, com o Alto Patrocínio da Associação de Carnaval da Bairrada e com a ajuda preciosa de todas as escolas de samba. O espectador teve uma melhor percepção do que estava a ver, valorizou o trabalho das escolas, e criou-se uma publicação que servirá de acervo histórico para a posteridade.
A revista Abre-alas é mais uma publicação da JM – Jornal da Mealhada, Lda, que procuraremos ir melhorando e desenvolvendo nas próximas edições do carnaval.
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A avaliação das escolas de samba
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A avaliação feita pelo Jornal da Mealhada continua como um dado adquirido. E ainda bem – assim pensamos. Uma vez mais, todas as escolas colaboraram, com a entrega de todas as informações relativas ao que iam apresentar no sambódromo, mas, também, com contributos relativos à própria organização da avaliação. Colaborações que se revelaram, uma vez mais, muito positivas. Em 2011 os resultados globais das escolas foram muito superiores aos de 2010, já assim tinha sido no ano passado. Fica demonstrada a preocupação das escolas em melhorar e em procurar superar deficiências. Essa é a grande vitória da avaliação.
As justificações dos jurados estão publicadas no sítio oficial da Internet do Jornal da Mealhada – uma inovação de 2011 –, em nome do esforço de melhoria coletiva do espetáculo e do concurso.
Ao nível da organização do concurso registaram-se dificuldades este ano, imponderáveis, que com a compreensão de todos, com a colaboração de todos e com os sacrifícios de alguns foram ultrapassados. A JM – Jornal da Mealhada, Lda agradece, de forma penhorada, a disponibilidade e colaboração muito empenhada de Ana Filipa Pereira, de Nuno Semedo, que, com Carla Carvalheira, compuseram a Comissão Técnica do Concurso.
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O Carnaval e as crianças
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No final do Carnaval de 2009, lembrámos que nesse mesmo ano se havia completado trinta anos desde o primeiro Carnaval da Criança, festa infantil que, durante duas décadas se realizou no Domingo Magro. Na altura interpelámos a Associação do Carnaval da Bairrada e, até, a Câmara Municipal da Mealhada – entidade que de ano para ano ganhou preponderância em termos de politica educativa – sobre o assunto. Não obtivemos respostas.
O Carnaval da Criança acabou porque, de certa forma, a organização de um desfile infantil escolar implica um trabalho suplementar da parte de professores, que sobrecarregava os docentes de sobremaneira. A verdade é que nos últimos anos – especialmente na Mealhada e em Luso – os desfiles infantis de Carnaval estão a reaparecer, o que revela que está a ser recuperada a dimensão e a oportunidade pedagógica que o Carnaval pode proporcionar às crianças. Ora se os desfiles estão a regressar, porque não voltar a organizar um desfile grande – com dimensão e notoriedade – ao nível concelhio? Deixámos este desafio em 2009, em 2010, e atrevemo-nos a repeti-lo agora, uma vez que consideramos que estão mais que reunidas as condições para fazer renascer o Carnaval Infantil da Bairrada.
“Trata-se, afinal, do futuro”, repetimos.
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O Carnaval e o orçamento
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O Carnaval na Mealhada é o maior evento cultural do município. Dizemo-lo sem pudor. É um disparate pensar que se trata de um fenómeno exclusivo das freguesias da Mealhada e de Casal Comba. Abarca energias de pessoas de todo o concelho e de freguesias limítrofes no concelho de Cantanhede. É um disparate afirmar que se trata de um evento que dura algumas horas durante dois dias num ano. O Carnaval é um espetáculo efémero, é certo, mas que envolve pessoas durante quase todo o ano.
O Carnaval é cultura, e requer um investimento considerável. Trata-se de um espetáculo efémero e dispendioso – há que reconhecê-lo sem complexos. O investimento em Cultura – assim como em Educação – é contabilisticamente complexo, especialmente quando estamos a falar de artes efémeras, mas nem por isso deixa de ser importante numa sociedade que se quer cada vez mais evoluída e desenvolvida.
O Carnaval Luso-brasileiro terá tido em 2011 – dados nunca facilmente acessíveis – um orçamento de 180 mil euros. A Câmara da Mealhada proporciona um apoio financeiro de 90 mil euros (menos dez por cento do que em 2010) e um apoio logístico muito considerável e – pelo menos para nós – dificilmente contabilizável. A entidade promotora – a Associação do Carnaval da Bairrada – terá ainda outras receitas, nomeadamente, de bilheteira, de exploração da tenda gigante e de patrocinadores.
Para muitos pode considerar-se um investimento supérfluo, e a opinião pública concelhia facilmente determinaria que seria uma despesa a abolir no orçamento municipal. Não integramos esse grupo. Ao contrário, pensamos que o orçamento do Carnaval da Bairrada deve ser aumentado com o incremento de receitas próprias, e que, gradualmente, fará sentido aumentar o investimento público (não só municipal).
A análise comparativa com outros carnavais portugueses – muitos deles de qualidade muito inferior ao da Mealhada – deve servir-nos de referência neste exercício.
Se é certo que carnavais como o de Estarreja, da Figueira da Foz e de Sines têm orçamentos próximos do da Mealhada – na maior parte com menos investimento municipal –, a verdade é que há cortejos em que o investimento é multiplicado por dois ou por três. Os carnavais de Torres Vedras e de Ovar, por exemplo, têm orçamentos na casa do meio milhão de euros – com a Câmara a pagar quase tudo. Os carnavais de Loulé e da Madeira custam 350 mil euros, e o da Nazaré 210 mil euros.
É certo que, na nossa óptica são gastos que consideramos exagerados, mas fará sentido pensar que sem investimento – nomeadamente na promoção do evento enquanto marca nacional da cultura e do turismo – dificilmente haverá retorno.
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Editorial do Jornal da Mealhada de 16 de março de 2011
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