Em qualquer país civilizado e democrático, a escolha do CEMGFA e a sua posse são assunto de Estado, da maior importância e relevância política. A Defesa Nacional é uma das responsabilidades soberanas do Estado – das que são absolutamente exclusivas – e não é indiferente quem – como referiu o PR – ocupa “o mais elevado cargo da hierarquia militar, sendo-lhe conferidas as mais altas responsabilidades a nível do comando operacional das forças e do aconselhamento militar aos órgãos de soberania com competência na área da Defesa Nacional”.
Em Portugal, o assunto foi tratado como se de mais uma cerimónia da Brigada do Reumático se tratasse, tendo interessado, para os jornalistas, o facto de o PR – que já está sair das cascas com a magistratura ativa – ter defendido os interesses da ‘família militar’ na área da saúde contra a estratégia economicista do Governo: “Não será de todo compreensível que outros interesses, que não os da instituição (militar), se sobreponham à operacionalidade e à qualidade do serviço prestado aos elementos das Forças Armadas e à família militar”.
Brigada do Reumático?O facto de a nomeação do CEMGFA não ter qualquer relevância politica em Portugal dever-se-á, apenas, aos jornalistas? Não. Definitivamente não. Este é, apenas, mais um sintoma do completo alheamento, ou distanciamento, que existe entre os portugueses e a instituição militar. Um distanciamento que é ainda maior do que o que existe entre os portugueses e a classe polítcia.
Em Portugal a cúpula da instituição militar (de um modo geral) é burguesa, acomodada e completamente dependente do Governo. Logo, não é independente. Não sendo independente, não cumpre a sua obrigação moral, legal, histórica e patriótica.
Lembro-me, a este propósito, das comemorações do bicentenário da Batalha do Bussaco.
Na minha opinião, AQUI expressa, Cavaco Silva “exortou o exército a manifestar-se”, na véspera de receber os líderes partidários no que se antevia como podendo vir a ser uma grave crise política com a putativa demissão do Governo se não houvesse acordo para a aprovação do Orçamento de Estado. Na mesma ocasião, e nos antípodas da ‘exortação’ presidencial, o General Pinto Ramalho – CEM do Exército na altura – dedicou o seu discurso no bicentenário a agradecer ao Governo por ter alcatroado o terreiro onde está instalado o obelisco… Assim se vê a força das Forças Armadas.
O General Luís Araújo foi escolhido pelo PR – com a participação ativa do Governo – não por ser um extraordinário militar (que não duvido que seja), não por merecer a confiança pessoal e política do Chefe de Estado (que é o Comandante Supremo das Forças Armadas), mas, apenas, porque era, no momento, o Chefe do Estado Maior da Força Aérea e cabia a vez a este ramo das Forças Armadas de nomear o CEMGFA – cumprindo uma tradição que persiste desde… tempos tão longínquos como… 1984.
De Março de 1984 a Março de 1989 o CEMGFA foi o General Piloto Aviador Lemos Ferreira – Força Aérea -, de 1989 a 1994 foi o o General Soares Carneiro – Exército -, de 1994 a 1998 foi o Almirante Fuzeta da Ponte – Marinha – , de 1998 a 2000 foi o General Espírito Santo – Exército -, de 2000 a 2002 foi o General Alvarenga Sousa Santos – da Força Aérea -, de 2002 a 2006 foi o Almirante Mendes Cabeçadas – Marinha -, de 2006 a 2011 foi o General Valença Pinto – Exército -, e agora o General Luís Araújo da Força Aérea. Já se sabe que o próximo será quem, daqui a 2 anos, no momento seja o CEM do Exercito, e depois o da Marinha, novamente o do Exército, e depois novamente o da Força Aérea e por aí adiante!
Quando nem nas Forças Armadas o mérito é fator de decisão, então onde é que – em toda a sociedade portuguesa – poderá vir a ser?
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Na última foto que tem como legenda 'O General Luís Araújo sucede ao General Valença Pinto' não se trata do Gen Valença Pinto mas sim do Gen Pinto Ramalho, actual CEME.
Obrigado a este anónimo pela correção!
Depois desta anónima correção, retifiquei duas coisas no texto (a vermelho) que resultam do facto de eu ter confundido o anterior CEMGFA (Gen. Valença Pinto) com o CEME (Gen. Pinto Ramalho), na fotografia e no Bussaco, a 27.09.2010.
Peço desculpa.