Portugal tem, desde ontem, um novo Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA). Trata-se do General Luís Araújo, que desempenhava, até agora, as funções de Chefe do Estado-Maior da Força Aérea. O novo CEMGFA foi empossado ontem, no Palácio de Belém, pelo Presidente da República (PR).

Em qualquer país civilizado e democrático, a escolha do CEMGFA e a sua posse são assunto de Estado, da maior importância e relevância política. A Defesa Nacional é uma das responsabilidades soberanas do Estado – das que são absolutamente exclusivas – e não é indiferente quem – como referiu o PR – ocupa “o mais elevado cargo da hierarquia militar, sendo-lhe conferidas as mais altas responsabilidades a nível do comando operacional das forças e do aconselhamento militar aos órgãos de soberania com competência na área da Defesa Nacional”.

Em Portugal, o assunto foi tratado como se de mais uma cerimónia da Brigada do Reumático se tratasse, tendo interessado, para os jornalistas, o facto de o PR – que já está sair das cascas com a magistratura ativa – ter defendido os interesses da ‘família militar’ na área da saúde contra a estratégia economicista do Governo: “Não será de todo compreensível que outros interesses, que não os da instituição (militar), se sobreponham à operacionalidade e à qualidade do serviço prestado aos elementos das Forças Armadas e à família militar”.

Brigada do Reumático?O facto de a nomeação do CEMGFA não ter qualquer relevância politica em Portugal dever-se-á, apenas, aos jornalistas? Não. Definitivamente não. Este é, apenas, mais um sintoma do completo alheamento, ou distanciamento, que existe entre os portugueses e a instituição militar. Um distanciamento que é ainda maior do que o que existe entre os portugueses e a classe polítcia.

A instituição militar portuguesa não tem qualquer relevância política em Portugal e isso é, não só grave, como dramático. Porque as Forças Armadas são, nas democracias, uma reserva fundamental da Nação, porque têm um papel muito importante na segurança e na independência nacionais, e, nas nações polidas e civilizadas, têm um papel relevantissimo no funcionamento do Estado.

Em Portugal a cúpula da instituição militar (de um modo geral) é burguesa, acomodada e completamente dependente do Governo. Logo, não é independente. Não sendo independente, não cumpre a sua obrigação moral, legal, histórica e patriótica.

Lembro-me, a este propósito, das comemorações do bicentenário da Batalha do Bussaco.
Na minha opinião, AQUI expressa, Cavaco Silva “exortou o exército a manifestar-se”, na véspera de receber os líderes partidários no que se antevia como podendo vir a ser uma grave crise política com a putativa demissão do Governo se não houvesse acordo para a aprovação do Orçamento de Estado. Na mesma ocasião, e nos antípodas da ‘exortação’ presidencial, o General Pinto Ramalho – CEM do Exército na altura – dedicou o seu discurso no bicentenário a agradecer ao Governo por ter alcatroado o terreiro onde está instalado o obelisco… Assim se vê a força das Forças Armadas.

O General Luís Araújo foi escolhido pelo PR – com a participação ativa do Governo – não por ser um extraordinário militar (que não duvido que seja), não por merecer a confiança pessoal e política do Chefe de Estado (que é o Comandante Supremo das Forças Armadas), mas, apenas, porque era, no momento, o Chefe do Estado Maior da Força Aérea e cabia a vez a este ramo das Forças Armadas de nomear o CEMGFA – cumprindo uma tradição que persiste desde… tempos tão longínquos como… 1984.
De Março de 1984 a Março de 1989 o CEMGFA foi o General Piloto Aviador Lemos Ferreira – Força Aérea -, de 1989 a 1994 foi o o General Soares Carneiro – Exército -, de 1994 a 1998 foi o Almirante Fuzeta da Ponte – Marinha – , de 1998 a 2000 foi o General Espírito Santo – Exército -, de 2000 a 2002 foi o General Alvarenga Sousa Santos – da Força Aérea -, de 2002 a 2006 foi o Almirante Mendes Cabeçadas – Marinha -, de 2006 a 2011 foi o General Valença Pinto – Exército -, e agora o General Luís Araújo da Força Aérea. Já se sabe que o próximo será quem, daqui a 2 anos, no momento seja o CEM do Exercito, e depois o da Marinha, novamente o do Exército, e depois novamente o da Força Aérea e por aí adiante!

Quando nem nas Forças Armadas o mérito é fator de decisão, então onde é que – em toda a sociedade portuguesa – poderá vir a ser?

Muito provavelmente será o General Pinto Ramalho a suceder ao General Luís Araújo, agora empossado

*

O CEMGFA exerce comando completo das Forças Armadas em estado de guerra e o seu comando operacional em tempo de paz.

+

O Discurso de Tomada de Posse do CEMGFA pode ser lido AQUI.
Aconselho!

+

“As Forças Armadas de Portugal, disciplinadas, treinadas, prontas e discretas, são um dos principais instrumentos do espaço de soberania que nos define como Nação, constituindo um iniludível indicador de Democracia consolidada, de desenvolvimento do País, e no ambiente estratégico prevalecente e previsível, um vector crucial para a projeção internacional de Portugal”.
Foi com estas palavras que o CEMGFA começou a sua intervenção na tomada de posse. Esperamos que consiga fazer um bom serviço à Pátria.
___________________________________________