Não tenho problemas nem constrangimentos em declarar o que gosto e o que não gosto.

Nunca escondi preferências, simpatias e antipatias.
Felizmente nunca precisei de me mascarar.

Há coisas que digo (publicamente) que muitos (alguns meus amigos) consideram que não devia tornar tão claras, seja pela minha profissão, seja pelos meios onde faço o meu quotidiano, seja porque causam invejas, sejam porque me tornam demasiado saliente, sejam porque me podem ser assacadas no futuro.

Mesmo assim vou arriscando… É uma mania… talvez…

Sou cavaquista. Nunca o escondi.
Sou liberal. Já o divulguei várias vezes.
Mas nem por isso aprecio todos os cavaquistas, nem todos os liberais. E nem todos os social-democratas, e nem todas as pessoas que comigo poderão ter um elo de proximidade ideológica.
E se sou cavaquista, liberal (não sou de todo um social-democrata no sentido puro e ideológico do termo) ou católico não é porque alguém me tenha arrebanhado para o ser, mas porque refleti sobre o assunto e reconheci que o era. Quando sentir que não o sou, deixarei de o ser, de facto.

Tudo isto para dizer que no domingo votei Cavaco Silva.

Mas, se por hipótese Cavaco Silva não fosse candidato – ou se a direita estivesse representada por outra pessoa qualquer [Marcelo Rebelo de Sousa, Santana Lopes, Ferreira Leite, Rui Rio ou outro qualquer] provavelmente o meu voto iria noutro sentido.

O meu perfil ideológico está muito mais próximo de Fernando Nobre do que qualquer outro candidato ou referência política atual (extra-Cavaco). Fernando Nobre é, em tese, alguém muito mais próximo do meu estilo de ver a república do que o são outras individualidades política mais próximas de mim.

Fernando Nobre é o protótipo do português que todos os jovens da minha geração gostariam de ser um dia. Um homem que correu mundo, que colocou os seus talentos ao serviço dos outros, que conseguiu vencer e dar testemunho de uma forma diferente de estar na vida e de marcar o presente a caminho do futuro. Apesar do sotaque afrancesado, Nobre é um português dos bons.

Assim que apresentou a sua candidatura, Nobre recolheu a minha simpatia.

Até começar a fazer campanha!

A campanha de Fernando Nobre foi desastrosa. Numa primeira fase, especialmente na fase de debates, demonstrou uma ignorância completa sobre o cargo a que se candidatava. Mostrou não conhecer os poderes do PR, mostrou não dominar conceitos básicos fundamentais do sistema político português e da Constituição, mostrou que se sentia completamente desamparado perante a realidade do país.

Depois, Nobre preferiu seguir o exemplo e o aspecto menos positivo da campanha de Cavaco: o auto-elogio. E então foi desastroso. Como não tinha quem o elogiasse – o patriarca Soares nunca deu a cara no que poderia constituir-se como uma traição a Sócrates – Nobre ‘escarrou’ na sopa, para usar a imagem de José Estevão. Há poucas coisas tão decadentes como alguém necessitar e exercitar o auto-elogio. Nobre acabou por demonstrar que se candidatou (apenas) por vaidade, e deitou por terra muita da simpatia que por ele se poderia nutrir.

Esgotada essa fase, num terceiro momento, Nobre pensou que tinha de seguir o exemplo de Alegre e passou a insultar Cavaco e o próprio Alegre, e o primeiro-ministro, e a classe política de uma forma generalizada. Entusiasmou-se e em vários momentos fez-me lembrar aqueles amigos estrangeiros a quem ensinamos uma asneira, que eles, por não dominarem o vocabulário, passam a usar normalmente e sem pudor, nas situações mais desapropriadas possível, mostrando enorme rudeza.

Na última fase, o homem ensandeceu… Aquele número dos telefonemas anónimos com ameaças e a declaração de que só se lhe dessem um tiro na cabeça o impediriam de ir à segunda volta – aliada à exortação para que Alegre desistisse a seu favor – mostrou um personalidade tresloucada e completamente desajustada da realidade de uma democracia moderna e madura como a nossa.

Ou seja: Fernando Nobre foi uma enorme desilusão.

Não me parece mal que se candidate daqui a 5 anos, mas ainda tem um longo caminho a percorrer. Tem de aprender muita coisa, tem de se rodear de pessoas que o possam ajudar, e tem de perceber que o povo português gosta de humildade!
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