O futuro do país no verbo ‘Educar’
Já manifestámos a nossa opinião de que a Justiça foi a área que se constitui como o maior fracasso do Portugal Democrático, o país do ‘depois do vinte e cinco de Abril’. Acontecimentos continuados no tempo, analisadas as evoluções do que tem sido o esforço do país na área da Educação nas últimas décadas e aferidos resultados, chegamos à conclusão de que há razões para considerarmos esta como a nossa maior frustração. Foi a área em que mais investimos (ou julgámos investir), em que mais energias despendemos (ou dissemos despender) e, infelizmente, é a lacuna maior que nos põe em causa enquanto Estado-Nação.
Um país que ‘já tantos mundos deu ao Mundo’, uma pátria de gente que se espalhou pelos cantos de todo o globo, não é capaz de procurar nos outros países o que melhor fazem pela sua Educação? Porque procura, a cada momento, reinventar a roda, para rebolar até lado nenhum?
Insiste-se em conjugar o verbo ‘Educar’ sempre no presente e nunca no futuro. Insiste-se em conjugar o verbo ‘Educar’, às escondidas dos verbos ‘Instruir’, ‘Disciplinar’, ‘Aprender’, ‘Apreender’, ‘Formar’, ‘Empreender’, ‘Fazer’, ‘Ser’. Por outro lado, tudo indica que a conjugação preferida se faz de mão dada com os verbos ‘Domesticar’, ‘Desautorizar’, ‘Brincar’, ‘Distrair’…
A resolução que antecipa a fusão dos agrupamentos de escolas até agora existentes em unidades de gestão com a inclusão dos estabelecimentos de ensino secundário faz todo o sentido. Bastaria lembrar o facto de a escolaridade obrigatória ter passado de nove para doze anos (do final do 3.º ciclo para o final do secundário), bastaria lembrar o facto de todas ou quase todas as escolas secundárias terem, também, alunos do 3.º ciclo que estavam fora dos agrupamentos de escolas para justificar essa medida. Medida que está prevista desde 2003, nos tempos em que o Governo era de outro partido – no caso de uma coligação de partidos. O que não se compreende nesta decisão é – onde é que já ouvimos isto? – o tempo e o modo.
Fundir agrupamentos – acabando com equipas de gestão –, um ano depois de ter sido decretada a eleição de directores e, em consequência disso, delineadas estratégias para uma coisa chamada ‘cultura de escola’ e projectos educativos para três anos, será correcto? Dar a estes directores, a cumprirem o primeiro terço do mandato, em Junho, informação de que cessam o trabalho para que foram eleitos, daí a três meses, e naquela altura do ano em que há, ao mesmo tempo, exames, avaliações para fazer e preparações para o próximo ano lectivo, será honesto?
Este exemplo, a par de outros, que não são, não foram, nem serão avaliados e, por isso, muitas vezes, tornam a escola ideal para os pais na escola surreal para os filhos está a embrutecer as nossas crianças e os nossos jovens e a torná-los seres deprimidos, frustrados, infelizes, amorfos e flácidos. Por um lado, tomamos medidas para aumentar a exigência, por outro facilitamos. Por um lado tornamos a escola mais agradável com outras condições logísticas, por outro tornamo-la insuportável limitando as crianças a lugares confinados e a horários que uma centena de anos de luta proletária contesta para fábricas, mas não despreza para escolas.
É preciso tomar uma opção drástica e essencial sobre o que queremos para os nossos jovens. Que Capacidades, Competências e Atitudes queremos que tenham em cada momento da sua vida escolar. Que definamos o tipo de escolas para cada tipo de formação (tecnológica, profissional, para prosseguimento de estudo, etc.).
Seria pedir muito a um Governo que definisse, gerando consenso alargado no Parlamento, o que quer Portugal para a Educação Nacional na próxima década? Faltarão razões para os estadistas do Portugal Democrático perceberem que é essencial que se faça um Pacto de Regime (com partidos, Presidente da República, Conselho de Estado, Parceiros Sociais, Pais, Funcionários e Estudantes) para que se estabeleça, até 2020, seja qual for o partido a formar Governo, um rumo, um conjunto de medidas e objectivos a estarem satisfeitos no final dessa década? Seria contrário ao respeito pelas diferenças de opinião e criatividade dos governos? Seria algo ideologicamente amorfo? Que interessará isso quando os portugueses forem a terra de cegos onde quem tem um olho emigra? Nos últimos anos, cem mil já o fizeram…
Editorial do Jornal da Mealhada de 30 de Junho de 2010