Dezoito anos de construção de futuros
A propósito do aniversário da Escola Profissional da Mealhada
“Estive aqui no inicio do meu mandato, há cerca de quatro anos, vi uma escola de excelência que me impressionou, e o seu exemplo esteve no meu pensamento no desenhar de muitas das boas medidas que desenhei desde aí!”.
Pode ser uma parcela de um discurso de circunstância. Pode ser, simplesmente, uma palavra, descomprometida, de simpatia. Mas esta frase é da ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, e foi proferida no sábado, dia 11 de Julho, na Escola Profissional Vasconcellos Lebre (EPVL), na Mealhada, perante uma assistência com algumas centenas de pessoas.
Não seria necessário recorrer às palavras da ministra da Educação – a mais contestada figura do actual Governo – para ilustrar a certeza, que temos, de que a Escola Profissional da Mealhada é, se não a maior, uma das maiores obras do concelho da Mealhada do século XX e princípios do século XXI (e não falamos somente de betão, mas de construção humana, social e moral, acima de tudo). Numa altura em que assinala o seu 18.º aniversário – completa-o neste mês de Julho – a EPVL é uma escola de referência nacional não somente no leque das escolas profissionais, mas em todas elas. É uma escola das mais arrojadas da Europa, com trabalho desenvolvido no campo do software livre, que dá cartas, tendo vindo, desde há vários anos, a partilhar saberes com escolas europeias por meio de parcerias que com elas constitui e, com base nesse tipo de cooperação, obterem financiamento europeu. É também uma escola que tem dado um apoio determinante no ensino profissional em África. Recebendo alunos da Guiné-Bissau e de Cabo Verde, estabelecendo parcerias com Angola e oferecendo ferramentas pedagógicas por si criadas ao Governo moçambicano, que, dentro de poucos meses, enviará para a Mealhada alunos e professores para receberam formação.
Em termos de sucesso na formação que ministra os dados são, também, factor de contentamento. Dos últimos ciclos de formação, apenas dois por cento dos alunos formados na EPVL estão desempregados, e 84 por cento estão a trabalhar na área em que obtiveram diploma na escola. Os restantes 14 por cento de alunos da escola dos últimos ciclos de formação prosseguiram os estudos e até há antigos alunos da escola que hoje são lá professores. A este propósito, não deixa de ser curioso o facto de a EPVL ter contribuído para o desmoronar do mito de que os alunos das escolas profissionais não conseguem entrar na Universidade e prosseguir lá, com sucesso, os seus estudos. As melhores notas da Escola Secundária da Mealhada nos exames nacionais de Matemática e de Economia de 2009, para ingresso no Ensino Superior, foram os de alunas provindas da EPVL.
A Escola Profissional da Mealhada é uma escola de referência. Por que será? Será pelo facto de ser uma escola privada? Será pelo facto de os docentes serem escolhidos pela direcção? Será porque a direcção é carismática, estável e pragmática? Será porque ministra um ensino técnico profissionalizante (de elevada qualidade)? Será porque há na escola uma cultura de trabalho, de esforço e de entreajuda? Será pela cultura de confiança e de auto-responsabilização que os docentes e directores propõem aos alunos? Será pelo facto de ter um corpo de alunos não muito numeroso e não massificado? Será porque, para alguns alunos, constitui uma tábua de salvação, uma derradeira oportunidade para a obtenção de condições que lhes possibilitem uma colocação satisfatória num posto de trabalho? Será porque é uma escola aberta à comunidade em geral, com uma boa relação com a comunicação social? Será pelo facto de ter instalações bem cuidadas e equipamento moderno? Será…?
Acreditamos que a EPVL é o que é por todas estas razões, entre outras que não descortinamos. É nossa convicção de que, se o sucesso daquela escola se deve, obviamente, ao trabalho de muitas pessoas, para isso muito tem contribuído, com o seu empenho, o seu dinamismo, o seu trabalho, a sua competência e a sua liderança mobilizadora, o director geral daquele estabelecimento de ensino, eng.º João Pega, o grande obreiro da grande construção humana que é a EPVL.
No ano em que se assinala o centenário da fundação do Colégio da Mealhada pelo Padre dr. António Antunes Breda, lembramos essa obra humana e a sua importância na luta pela instrução e literacia de várias gerações de jovens em toda a região centro de Portugal. É, para nós, evidente na EPVL o espírito do Colégio da Mealhada, uma espécie de legado, ou semente, que, devidamente aproveitado, está a produzir abundantes frutos. O director da EPVL foi aluno e professor do Colégio da Mealhada. Tinha-o sido também seu pai, o professor Armindo Pega. Se é com orgulho que se celebra este ano o centenário da fundação do Colégio da Mealhada e o início de uma longa e porfiada luta pela elevação do nível de instrução/formação da gente da zona em que se situava, deverá ser também com orgulho que se lembrem e festejem os dezoito anos do ensino técnico e profissional que a EPVL, com assinalável maestria, vem ministrando a pessoas da região centro de Portugal.
Editorial do Jornal da Mealhada de 15 de Julho de 2009
Recordo com saudade o Dr. João Pega que foi meu professor de Matemática no antigo Colégio da Mealhada (Externato D. Afonso Henriques – edifício em frente à Estação da Mealhada). Um professor magnífico, a quem deixo os meus respeitosos cumprimentos.
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