Eu fui – eu sou – um privilegiado. Tive e tenho os melhores amigos do mundo. E tive um pai e uma mãe que me permitiram ter os melhores amigos do mundo.
Amigos que fizeram um abaixo assinado a exigir ao meu pai que me deixasse ir com eles fazer uma viagem de finalistas, quando eu nem sequer tinha idade. Amigos que nos piores momentos de desgostos de amor, me tiraram de casa e me levaram de férias. Amigos que se organizavam para fazermos apontamentos de estudo – sebentas verdadeiras -, para que nenhum de nós ficasse para trás. Amigos que alinhavam em loucuras como a de, com 17 anos, ir de mochila às costas percorrer a Europa. Amigos que me exigiram cumplicidades e segredos, que retribuíram confiança, que me ensinaram o valor da palavra, do compromisso. Amigos que ainda hoje me garantem que eu nunca caminharei sozinho.
E mais do que o desgosto de não ter filhos, reside em mim o desgosto de acreditar que os filhos dos meus melhores amigos nunca terão amigos tão bons como eu tive e tenho. E isso vai lhes fazer falta a eles, vais fazer falta ao mundo e, também por isso, o mundo que lhes vou deixar não é melhor do que o mundo que me deixaram a mim.