“Apesar de a Associação dos Bombeiros Voluntários da Mealhada ter sido fundada em 26 de julho de 1927, há registos históricos que nos dão conta da existência de um corpo de bombeiros na Mealhada já desde 1916”, declarou Nuno Salgado, presidente da assembleia geral da associação na cerimónia do aniversário. No mesmo sentido, o presidente da direção, Nuno Castela Canilho, na mesma ocasião, afirmou “Se comemoramos hoje os 89 anos da fundação da associação não devemos deixar de lembrar a existência comprovada de bombeiros na Mealhada há pelo menos um século”. As duas intervenções foram proferidas na cerimónia de aniversário da Associação dos Bombeiros Voluntários da Mealhada, que teve lugar ao final da tarde de terça-feira, 26 de julho, dia de Santa Ana, padroeira da cidade e da corporação.
O dia de aniversário foi assinalado, logo pela manhã, com o hastear das bandeiras, mas foi ao final do dia que a festa teve lugar, com a participação de bombeiros, antigos bombeiros, muitos representantes de associações congéneres do distrito de Aveiro e muitos autarcas e amigos da corporação mealhadense. Para além de Rui Marqueiro, presidente da Câmara, e de todos os vereadores com pelouros no executivo, tomaram lugar na cerimónia o deputado da Nação Bruno Coimbra, os presidentes das Juntas de Freguesia da Pampilhosa, da Vacariça e da União de Freguesias de Mealhada, Antes e Ventosa do Bairro. Verificou-se, ainda, a representação da Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro e a presença do Comandante Operacional Distrital, José Bismarck.
Carregado de simbolismo, as cerimónias começaram com a deposição de uma coroa de flores no monumento ao Bombeiro localizado em frente ao quartel e a observância de um minuto de silêncio em memória dos bombeiros e dirigentes falecidos. Seguiu-se, imediatamente, a bênção de uma nova viatura dedicada ao transporte de doentes, que recebeu o nome de “Joaquim Ricardo Jorge – Quim Eletricista”. Nuno Castela Canilho, na ocasião afirmou: “Este é um agradecimento forte e sentido ao ‘Quim Eletricista’ um bombeiro do Quadro de Honra, mas acima de tudo um amigo da nossa associação que durante década e meia ajudou esta casa de muitas formas, mas de uma maneira especial e dinâmica com a organização da tasquinha dos Bombeiros no Festame ou Feira de Artesanato e Gastronomia da Mealhada”. E acrescentou: “A direção tomou há muitos meses a decisão de atribuir a uma viatura o nome do senhor Joaquim. Estava ainda entre nós. O pudor de lhe fazer uma homenagem que pudesse ser vista como uma despedida extemporânea e, eventualmente, piorar até o seu estado de saúde, levou-nos a adiar o gesto até uma altura em que a sua luta contra a doença lhe pudesse estar de feição. Infelizmente esse dia nunca chegou e fica-nos a frustração de só o podermos fazer agora. Mas agora sabemos que, esteja onde estiver, está a ver de uma maneira simples o quanto gostamos dele, o quanto lhe estamos gratos e o quanto continua vivo entre nós. A VDTD 04 ‘Quim Eletricista’ vai servir os mealhadenses. E vai servir, especialmente, os doentes, os mais debilitados, os que precisam de auxílio para acorrer aos cuidados de saúde mais básicos, desde consultas a tratamento seja de quimioterapia seja de hemodiálise. Acreditamos que é a viatura certa para homenagear o guerreiro que perante o sofrimento e a dor, optou sempre pela vontade de ser o que protege e cuida”.
Já no interior do Pavilhão Dr. Mário Saraiva, foram atribuídas medalhas de assiduidade de cinco anos a cinco bombeiros e de vinte anos a três bombeiros. Na mesma ocasião foram promovidos a bombeiros de 3.ª – passando a partir desse momento a integrar definitivamente o corpo activo – cinco estagiários. Foram ainda promovidos a bombeiros de 2.ª nove bombeiros e o bombeiro de 1.ª Jorge Costa foi promovido a sub-chefe.
Na sua intervenção, o comandante Nuno Antunes João declarou: “Parabéns aos jovens que hoje se tornam bombeiros, parabéns aos bombeiros que foram promovidos, parabéns, antecipados, aos bombeiros que estão a realizar provas para a progressão e que ainda não concluíram o processo”. E disse ainda: “Aos jovens que hoje se tornam bombeiros – e de certa maneira aos estagiários que frequentam a escola que está a decorrer – permitam-me deixar-lhes uma palavra de incentivo e de coragem. Esta farda não é leve, esta responsabilidade não é simples, este trabalho voluntário não é sempre fácil. Mas vale, deve valer, pelo sentido de serviço aos outros, pela capacidade de transformar a vida de alguém, salvando, apoiando, ajudando na cura, auxiliando na doença e no desastre, na hora difícil e mais terrível. Aprendam a sentir o agradecimento simples de saber que se fez a coisa certa no momento adequado”.
A sessão solene prosseguiu com as intervenções de Nuno Salgado, de Nuno Castela Canilho, do Cmdt Carlos Mouro, em representação da Federação dos Bombeiros do Distrito de Aveiro, do Comandante Operacional Distrital José Bismarck e concluiu com a intervenção do presidente da Câmara da Mealhada, Rui Marqueiro. O presidente da Câmara elogiou a prontidão dos bombeiros da Mealhada, saudou a cooperação que tem sido alcançada a todos os níveis em prol do bem comum e garantiu que a autarquia manter-se-á atenta e disponível para ajudar os bombeiros da Mealhada.
À cerimónia solene seguiu-se o jantar convívio que terminou com o cantar dos parabéns e a partilha do bolo de aniversário.
100 anos de Bombeiros na Mealhada?
Nuno Salgado e Nuno Canilho referiram a nota histórica na sua intervenção, aludindo à memória do ano de 1916 para assinalar o momento mais longínquo da reminiscência histórica comprovada da existência de um corpo de bombeiros voluntários na vila da Mealhada. A tomar essa data como determinante, os bombeiros da Mealhada comemoravam este ano o seu centenário e não 89 anos. A curiosidade assolou o Jornal da Mealhada que interpelou o presidente da direção Nuno Castela Canilho, que respondeu: “Consideremos duas coisas diferentes: a primeira é a existência de um primeiro e original corpo de homens disponíveis para fazer o serviço de bombeiros; a segunda é o nascimento de uma associação que vai gerir e governar, dando capacidade de organização a um corpo de bombeiros tal como hoje o conhecemos. Garantidamente, há bombeiros na Mealhada há pelo menos 100 anos. Isso é um facto. A fundação da associação que gere o corpo de bombeiros essa é de 26 de julho de 1927 e por isso faz agora 89 anos!”. O dirigente resume ainda: “Há bombeiros na Mealhada há 100 anos, e há uma associação a geri-los há 89. Não são informações conflituantes!”.
Na monografia de António Breda Carvalho, “Mealhada – A Escrita no Tempo”, de 1997, na página 79, encontramos a referência a uma notícia do jornal “O Campeão Regional”, na sua edição n.º 49, de 24 de setembro de 1916, que publica: “Mais uma vez o teatro, daquela vila (Mealhada), é visitado por uma brilhante trupe do Porto, que ali foi no passado domingo 17 dar um sarau em benefício dos Bombeiros Voluntários da Vila”. Em 20 de abril de 1920, no jornal “Mealhadense”, na sua edição n.º 5, António Pega testemunhava a existência de equipamento e de homens (pese embora em escasso número) aptos para o serviço de bombeiros e socorro na vila da Mealhada.
JORNAL DA MEALHADA DE 3 DE AGOSTO DE 2016