Esperança.

O Natal é tempo do elogio da esperança, a época propícia para pensarmos nela, para termos confiança e para conduzirmos as nossas vidas impelidos por ela.
Podemos justificar esta afirmação — a do Natal como tempo do elogio da esperança — com o comportamento da própria natureza e com a tendência que o Homem tem de dar à realidade natural uma dimensão simbólica.
Antes de Cristo nascer ou de se ter estabelecido que neste tempo do calendário se evocaria o Seu nascimento, já os homens celebravam a esperança, como factor de confiança da chegada de melhores dias. Faziam-no motivados pelo fenómeno do solstício de Inverno — momento a partir do qual o dia passa a ser maior do que a noite, o período de luz solar passa a ser superior ao período de escuridão. Deste facto astronómico terá nascido a ideia de que neste momento a Luz vence a Treva, o Bem vence o Mal.
Celebrações associadas à luz, à mudança de ciclo solar, e à esperança da transformação a ela associada. Com a implantação do cristianismo, os cristãos começaram a evocar, também, o nascimento do Salvador, como início de um tempo novo, de uma nova aliança entre Deus e os homens. E Cristo, o Salvador — o Deus-Filho incarnado, o Messias prometido — é esperança para cristãos, mas, também, de certo modo, esperança para os muçulmanos. Jesus é considerado no islamismo como grande profeta.
Hoje, mais do que a significação atribuída ao ciclo solar, é a necessidade humana de sobrevivência que nos conduz à invocação e à utilização da esperança como apoio, como suporte, como uma espécie de muleta, espiritual, anímica, para as nossas vidas. Uma invocação e utilização que vai muito para além da fé, da espiritualidade ou sequer da religião. Trata-se de um esperança racional, a de percebermos que, em tempo de crises, que prometem agravar-se, precisamos de nos precavermos, de nos prepararmos material e espiritualmente, de observarmos a realidade que nos rodeia e arriscar, investir em segurança, consumir responsavelmente, para que a economia saia do estado de estagnação em que se encontra e volte a crescer.
Em finais do ano de 2007, e durante o ano de 2008, falou-se da mais recente encíclica do Sumo Pontífice da Igreja Católica, o Papa Bento XVI, sobre a Esperança — Spe salvi. Também em 2008, perante o olhar atento de todo o planeta, foi eleito para presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, um homem que escolheu como ideias e palavras de ordem da sua campanha ‘Esperança’ e ‘Mudança’, e como lema, a frase “Yes, we can” — Sim, nós podemos. Estes dois factos serão uma coincidência ou uma demonstração de que o Homem contemporâneo tem sede de esperança, e que a satisfação dessa sede é prioridade absoluta? Prioridade espiritual, prioridade social, prioridade mundial.
A todas as pessoas das nossas relações, a quem se justificaria a oferta de algum bem material, não seria mais positivo dirigirmos uma palavra de esperança — “Uma esperança fidedigna, graças à qual se possa enfrentar o tempo presente”, como disse Bento XVI?
“O presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho” (encíclica Spe salvi).

Editorial do Jornal da Mealhada de 23 de Dezembro