25 de Abril em 2009
No próximo sábado comemora-se, em Portugal, o 35.º aniversário da Revolução dos Cravos. Num tempo de grave crise financeira, económica e social, adivinha-se um fim-de-semana acalorado com a oportunidade que a data proporcionará para uma jornada de luta da parte dos partidos da oposição, dos sindicatos e de grande número das ‘corporações’, nomeadamente as ligadas à administração da Justiça. A uma semana do aniversário da revolução serena que pôs fim ao Estado Novo, o Chefe do Estado irritou o primeiro-ministro ao pedir que se evitem a tomada de medidas populistas e a estratégia de governar para as estatísticas. Em contra-ataque, o chefe do Governo fez saber que era inútil a ‘política do recado e do remoque’ e que o país precisa mais de políticos que anunciassem o que há a fazer que daqueles que sublinham o clima de pessimismo e derrotismo.
Mas está mais que visto que os discursos do 25 de Abril se vão centrar no apelo à participação eleitoral dos portugueses nas eleições de 2009 — Europeias, Autárquicas e Legislativas.
Só de modo muito leve, possivelmente de modo completamente inconsequente, se falará nas reformas do aparelho do Estado que precisamos que sejam tomadas; na administração pública — administração pública que hoje está a tolher completamente o desenvolvimento do país ao ter em lugares de liderança pessoas completamente impreparadas; no sistema político, que está a matar a participação democrática dos cidadãos; na educação dos portugueses para a cidadania, para o patriotismo, para as regras do confronto democrático.
Os discursos do PS, PSD e CDS falarão da Europa unida e forte como uma necessidade premente para a retoma económica e para a saída da crise. A CDU e o BE dirão que é por culpa da Europa que estamos em crise social. Todos exaltarão o poder local democrático como a mais importante conquista de Abril. O PS falará da necessidade de estabilidade política e todos os outros partidos falarão da necessidade de mudança, de alternativas. O Presidente da República prosseguirá na exaltação dos bons exemplos que permitem que não percamos a auto-estima, e os sindicatos, na Avenida da Liberdade, falarão do desemprego, da precariedade social, e das limitações legisladas a respeito do sigilo bancário… Ao som do tema “Sem eira nem beira” dos Xutos e Pontapés.
Nuno Álvares Pereira, herói e santo
Será canonizado no domingo, 26 de Abril de 2009, em Roma, o Beato Nuno de Santa Maria, nome religioso, depois de se ter tornado carmelita, de Nuno Alvares Pereira (1360-1431). Condestável do Reino de Portugal (chefe militar), D. Nuno foi o braço direito do Rei Dom João, Mestre de Avis, nas batalhas que asseguraram as condições necessárias para que, no processo de sucessão ao trono de Portugal por morte de D.Fernando se respeitasse a legitimidade deste príncipe, reconhecida pelas Cortes de Coimbra. Batalhas que travaram a ofensiva de Dom João de Castela, genro do rei morto, e que cuja coroação colocaria em causa a independência de Portugal. Trata-se, portanto, de um herói nacional.
Nuno Alvares Pereira foi, ainda, sogro do primeiro duque de Bragança e, por isso, ascendente de todos os reis portugueses da Dinastia de Bragança, que reinou em Portugal durante 270 anos.
Homenagear e levar aos altares um herói da independência e da luta antiga entre portugueses e castelhanos é, em tempos de unidade europeia, curioso. Mas nem por isso deve ser diminuída a sua importância. Trata-se de uma extraordinária oportunidade para insuflação da auto-estima de Portugal e dos portugueses, católicos e não católicos, monárquicos e republicanos, conservadores e progressistas. A este propósito, aconselhamos a leitura do livro do antigo Bispo do Porto, Dom António Ferreira Gomes, de 1931, intitulado “Nuno de Santa Maria, herói e santo” da editora Aletheia. Trata-se de um conjunto de interessantes textos escritos por um homem extraordinário a propósito desse português medievo que tinha já uma concepção moderna, formada e muito concreta do que deveria ser o futuro de Portugal como Nação. Em tempo de crise o Santo Condestável é ícone da resistência e da esperança de que todos precisamos para sobreviver.
Editorial do Jornal da Mealhada de 22 de Abril de 2009