… e li o livro de José Rodrigues dos Santos, “A Vida num Sopro”.
Não achei assim nada de especial. Talvez até seja um bocado embrulhado. Há, no entanto, um aspecto que ressalta à vista e que é, no meu entender, preconceituoso.
Tanto neste livro como no “Rio das Flores”, de Miguel Sousa Tavares, o protagonista, mesmo vivendo na década de 30 do século passado, manifestam-se anti-salarazistas e libertários. É certo que não tomam nenhuma acção concreta, relevante, contra o regime – não participam em nenhuma acção da oposição, nem se tornam militantes comunistas – mas falam de modo contestário.
A ideia é preconceituosa porque se escreve hoje em Portugal sobre o passado, com preconceitos de hoje e sem entender o pensamento da altura. Na década de 1930 o Estado Novo era uma solução desejada e aplaudida pela grande maioria dos portugueses e as liberdades estavam tão tolhidas, desde 1926, como já haviam estado noutras alturas durante a primeira república.
Em “A Vida num Sopro” o protagonista, Luís António Afonso chega até a entrar em contradição com o que afirma.
Aborrece-me que não se tenha a honestidade intelectual suficiente para evitar que se escrevam estórias, com a história revisitada e com os preconceitos da actualidade. Infelizmente, foi dessa maneira que durante o Estado Novo se subverteram teses e se enalteceram heróis históricos portugueses e se fez uma história oficial, à medida das necessidades do regime. Agora faz-se a mesma coisa…