A propósito da passagem do comboio de alta velocidade pelo concelho
Já há muito tempo que o debate sobre o investimento, ou não, no comboio de alta velocidade (na sigla galicista: TGV) se instalou na televisão, nos jornais, nos fóruns políticos e económicos. Há uma corrente que defende que o investimento em grandes obras públicas poderá ser decisivo no relançamento da economia nacional – porque vai gerar emprego e circulação de capitais. Antagonicamente há quem defenda que o país não dispõem de capitais para isso pelo que se trata de gastar hoje dinheiro que só se terá amanhã… ou depois. O debate sobre o TGV tem incidido sobre a questão da qualidade do investimento e muito raramente sobre a necessidade, as vantagens e as desvantagens da alta velocidade. O debate a que aludimos fez-se na comunicação social, não sabemos o que disso chegou à população.
Procuramos estar atentos ao desenvolvimento de todos os projectos nacionais que intervenham – directa ou indirectamente – na área do concelho da Mealhada, tendo em conta as consequências positivas ou negativas que daí possam advir para a população. Tem sido assim também em relação ao TGV. Em Maio de 2009 divulgámos o conjunto de limitações ao uso de terrenos inseridos nos corredores projectados que faziam já antever o impacto que a construção da linha de alta velocidade teria no concelho da Mealhada. Desde essa altura, ficou a saber-se que, entre os traçados propostos para a instalação do troço da via que atravessará esta zona, havia um, o número cinco, que traria mais prejuízos para o concelho da Mealhada.
Em 23 de Dezembro de 2009, demos conta de que os traçados, nessa altura em fase de estudo de impacto ambiental, estavam em consulta até ao próximo dia 5 de Fevereiro. Consultámos autarcas, acompanhámos a discussão do assunto em sede de reunião da Câmara Municipal. Na presente edição do Jornal da Mealhada apresentamos a reportagem da sessão pública de esclarecimento à população promovida pela Junta de Freguesia da Antes e um artigo de opinião de Branquinho de Carvalho (B.C.) a este propósito.
O debate do TGV chegou, finalmente, à base da pirâmide política, ao povo. E era bom que por lá se prolongasse por mais algum tempo. A iniciativa tomada pela Junta de Freguesia da Antes bem poderia ser aproveitada pelas Juntas de Freguesia de Casal Comba, de Ventosa do Bairro e de Barcouço, ou até mesmo pela Câmara Municipal para um cabal esclarecimento da população e para uma consequente tomada de posição forte e determinada pela rejeição do traçado 5.
O impacto do TGV nos interesses e na vida das populações tem várias facetas. Uns sublinharão o impacto visual, outros sublinharão o impacto ao nível do ruído – é, aliás, um aspecto sublinhado pelo Estudo de Impacto Ambiental –, outros preocupar-se-ão com as mudanças na morfologia do território. Não será uma obra indiferente a ninguém, disso não temos dúvidas.
É por isso muito importante que o debate se realize, e que a população se envolva num momento decisório importante como é este.
Nesta fase não está em discussão se o projecto nacional do TGV é ou não importante para o país. Não vale a pena questionar o investimento. Não vale a pena perguntar sobre a utilidade do TGV Lisboa – Porto, num país em que o comboio alfa-pendular e a ligação aérea até garantem rapidez no transporte de pessoas e mercadorias. Não vale a pena sugerir que a rede de alta velocidade só se instale na ligação para a ligação a Espanha. Essa discussão tem lugar em sede de campanha eleitoral, na procura de respostas de partidos e programas políticos e partidários.
O que está agora em causa é garantir que ficamos todos prevenidos e informados acerca dos malefícios e dos benefícios deste projecto nas nossas vidas e adequarmo-nos a eles. Temos a consciência tranquila de que tudo fizemos para minimizar os malefícios que aceitamos em nome do interesse nacional?
O estudo de impacto ambiental está acessível a quem o quiser consultar na Câmara Municipal da Mealhada. O resumo não técnico do referido estudo pode ser consultado nas juntas de freguesia da Antes, de Barcouço, de Casal Comba e de Ventosa do Bairro ou no sítio http://www.apambiente.pt/. As exposições referentes ao assunto deverão ser dirigidas ao Director-geral da Agência Portuguesa do Ambiente até à data do termo da consulta pública – 5 de Fevereiro de 2010.
Editorial do Jornal da Mealhada de 20 de Janeiro de 2010