Carlos de Windsor, o príncipe-herdeiro da coroa britânica, Príncipe de Gales está, com a esposa, a Duquesa da Cornualha, em visita oficial a Portugal. Daqui a precisamente um mês, casa-se o seu primógénito, Guilherme de Windsor, o que, em todas as monarquias, acaba por ser um sinal de preparação para a sucessão real.

Não haveria muito a dizer a propósito da visita de Carlos, e da própria vida de Carlos, não fossem dois aparentes paradoxos, que, consequentemente, parecem estar a ser determinantes para que mesmo os mais realistas (no âmbito de adeptos da causa real) temam uma eventual coroação de Carlos de Windsor, como Rei do Reino Unido e da Commonwealth.

Carlos de Windsor é filho da monarca britânica que há mais tempo foi coroada. Uma senhora respeitada e com uma notoriedade invejável, mesmo entre as cabeças coroadas europeias, e apesar dos frequentes escândalos da sua enorme prole e afins. Isabel II é uma mulher conservadora e muitas vezes acusada de levar a instituição mais a sério do que a própria família. Foi acusada de insensibilidade aquando da morte de Diana Spencer. E notoriamente leva muito a sério o cargo que ocupa. O primeiro paradoxo da vida de Carlos surge com o facto ser um homem moderno, aparentemente mais emotivo e solto. Seria de esperar que os britânicos preferissem uma pessoa mais jovem (mesmo que já maduro) do que uma octogenária.

A Rainha de Inglaterra é uma imagem que ilustra a pessoa que detém o poder mas não governa. Mais chique do que a imagem do ‘testa-de-ferro’, mas com o mesmo significado. É uma imagem pejorativa, diga-se de passagem. O segundo paradoxo de Carlos de Windsor reside no facto de ser criticado por ser, alegadamente, demasiado opinativo. O Principe de Gales tem apresentado contundentes posições contra alimentos trangénicos, contra a arquitetura que foge do conceito tradicional e local e, ao mesmo tempo, contra a auto-sustentabilidade, contra a desflorestação, a favor das energias renováveis. Trata-se mesmo de um ativista da chamada Economia Verde e Limpa. Carlos de Windsor criou urbanizações em propriedades suas – como Poundbury – baseadas neste sistema e até tem produções agrícolas baseadas nos mesmos principios.

Carlos de Windsor poderá nunca vir a ser Rei, esse parece ser o desejo de muitos britânicos, mas poderá não o ser por ter consciência social e ambiental. Por defender o que acredita e ter um modelo de desenvolvimento económico. E isso é, reconheça-se, um paradoxo importante na sociedade ocidental.

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