Açores



Há um intenso orgulho

Na palavra Açor

E em redor das ilhas

O mar é maior

Como num convés

Respiro ampIidão

No ar brilha a luz

Da navegação

Mas este convés

É de terra escura

É de lés a lés

Prado agricultura

É terra lavrada

Por navegadores

E os que no mar pescam

São agricultores

Por isso há nos homens

Aprumo de proa

E não sei que sonho

Em cada pessoa

As casas são brancas

Em luz de pintor

Quem pintou as barras

Afinou a cor

Aqui o o antigo

Tem o limpo do novo

É o mar que traz

Do largo o renovo

E como num convés

De intensa limpeza

Há no ar um brilho

De bruma e clareza

É convés lavrado

Em plena amplidão

É o mar que traz

As ilhas na mão

Buscámos no mundo

Mar e maravilhas

Deslumbradamente

Surgiram nove ilhas

E foi na Terceira

Com o mar à proa

Que nasceu a mãe

Do poeta Pessoa

Em cujo poema

Respiro amplidão

E me cerca a luz

Da navegação

Em cujo poema

Como num convés

A limpeza extrema

Luz de lés a lés

Poema onde está

A palavra pura

De um povo cindido

Por tanta aventura

Poema onde está

A palavra extrema

Que une e reconhece

Pois só no poema

Um povo amanhece



1976

Sophia de Mello Breyner Andersen