O país está chocado com a terceira morte de bombeiros, em combate, em quinze dias. Perante o primeiro morto, em 4 de agosto, António Nuno Ferreira, quarenta e quatro anos, filhos menores, ouviu-se solidariedade, falou-se em acidente, compreendeu-se que há um risco que os bombeiros aceitam correr quando, voluntariamente, abraçam esta causa. Um risco que nem sempre corre bem. Quando, a 15 de agosto, se soube da morte de Pedro Rodrigues, solteiro, sentiu-se a angústia, acentuou-se a perda. Ontem, a morte de uma bombeira de 22 anos, com uma filha de quatro anos, instalou-se o choque e a revolta. Compreende-se.
Hoje a pergunta impõe-se:
De quem é a culpa de tantos fogos e de tantas mortes?
Fizeram-me a pergunta várias vezes hoje. Até de um jornal. A resposta que dei foi simples:
A culpa é minha!
Poderia responder que a culpa é da falta de meios. Podia, mas a verdade é que, apesar do completo desinvestimento do Estado, as associações de bombeiros voluntários, com o apoio das autarquias, o sacrifício dos próprios bombeiros e a solidariedade das populações, têm conseguido, de uma forma geral, adquirir viaturas e materiais no sentido do combate aos incêndios florestais em Portugal ser eficiente.
Poderia responder que a culpa é da falta de condições dos bombeiros. Podia, mas a verdade é que, apesar de por exemplo estar a decorrer um concurso público para a compra de equipamentos de protecção individual desde janeiro, com financiamento comunitário e de esse concurso ter sido anulado várias vezes porque foi mal feito pelo Governo, tem sido possível dar à maior parte dos bombeiros protecção condigna, especialmente para os mais operacionais.
Poderia dizer-se que a culpa é da falta de conhecimentos ou preparação dos bombeiros. Podia, mas a verdade é que apesar de a Escola Nacional de Bombeiros não estar a dar a formação necessária e na quantidade que as corporações precisam, e de até as promoções estarem todas paradas porque não há respostas, os bombeiros portugueses – muitas vezes com um saber de experiência feito -, de uma forma geral, não estão impreparados.
Poderia dizer-se que a culpa é da falta de legislação regulamentar sobre a floresta. Podia, mas a verdade é que, apesar de o Estado ser o proprietário florestal mais negligente que existe e de as suas matas estarem ao abandono, a legislação existe – quanto a perimetros de segurança, por exemplo, não há é quem a cumpra e quem a faça cumprir. A GNR, nesse dominio é perfeitamente incompetente e os tribunais perfeitamente irresponsáveis e desajustados da situação do país.
Poderia dizer-se que a culpa é da falta de legislação penal. Podia, mas a verdade é que, apesar de o regime de prisão preventiva e da aplicação de outras medidas de segurança aos incendiários não ser suficientemente persuasora, muitos dos incendiários são pessoas doentes e o problema não está em prende-los, está em tê-los internados ou debaixo de olho, especialmente nesta altura do ano.
No fundo,
A culpa é minha, que herdei pinhais e que há anos que não vou lá. Pinhais que não mando limpar, cujas extremas nem sequer conheço. Pinhais com árvores que crescem, caem, apodrecem e ardem e eu nem disso tenho reflexo.
Os juízes são fracos, os GNR são moles, há pessoas doentes em liberdade a meter fogos por vingança, por diversão – para verem o movimento, a adrenalina e o espectáculo de carros e aviões -, há governantes e políticos irresponsáveis, há bombeiros aventureiros, há isso tudo.
Mas só quando eu tiver consciência de que a floresta arde porque eu, como proprietário, nada faço, é que o problemas dos fogos florestais em Portugal deixa de ser letal.
Em Portugal mata-se por causa de uma extrema de um terreno. Há tribunais completamente entupidos por causa de partilhas de terras. Mas os portugueses querem os terrenos para fingir que são proprietários. Mas a verdade é que não são, porque não cuidam, não tratam e ainda acham injusto serem multados por serem irresponsáveis.
A Ana Rita morreu, o António morreu, o Pedro morreu. E o culpado sou eu!