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Vai haver Carnaval!

Terá terminado, finalmente, assim esperamos, a novela que se criou à volta da organização do Carnaval da Bairrada de 2008. Com todo o respeito pelos intervenientes, foi, na nossa opinião, um assunto que se arrastou tempo de mais e que terminou da forma mais inesperada mas também desejada. Chegou ao fim um braço de ferro com a cedência da parte que se dizia mais ofendida. Houve, em todo este processo, grande parte dos ingredientes de uma novela de qualidade: intriga, política, ódios de estimação, amor… Mas acabou, finalmente, agradando a gregos e a troianos e com um final feliz. Está assegurada, para este ano, pelo menos, a continuação do Carnaval da Bairrada.
Carlos Cabral, presidente da Câmara Municipal da Mealhada, não terá, em todo este processo, agido da melhor maneira, mas é, na nossa opinião, o vencedor do combate. O autarca não deveria ter deixado sem resposta os dirigentes da Associação do Carnaval da Bairrada (ACB) e o seu pedido — megalómano? — para a realização do Carnaval de 2008, por se considerar insultado. Afinal pedir pode ofender. Carlos Cabral acabou por ser considerado o principal responsável pelo agudizar de uma situação que teve de transbordar para a praça pública. Já depois de a guerra entre a ACB e a Câmara ser pública e notória, o presidente adiou a resposta a algumas dúvidas e só muito mais tarde é que deu os esclarecimentos que se impunham. Apesar de tudo isto, ao travar uma batalha com a ACB, Carlos Cabral acabou por ganhar muitas simpatias por parte dos munícipes. A ACB tem alguns problemas ao nível de credibilidade, e este foi um combate que boa parte dos munícipes gostaram de ver travado. A ACB aceitou organizar o Carnaval com as condições financeiras oferecidas pela Câmara. A autarquia não precisou de ceder em relação à sua última proposta antes da demissão da direcção da ACB e ganhou, por isso, o combate.
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Álvaro Miranda, presidente da direcção da ACB, foi um dirigente esforçado. Conduziu todo o processo, acreditamos, da maneira que melhor soube e pôde. Muitas vezes desacompanhado e noutras mal aconselhado, Álvaro Miranda foi impelido a dramatizar o discurso e a dar a cara em situações ingratas e desconfortáveis. É notório o esforço de Álvaro Miranda na presidência da direcção da ACB. Esse é um trabalho importante que lhe seria reconhecido houvesse ou não Carnaval em 2008. Mas vai haver desfile de Carnaval e isso deve-se a um gesto de bom senso da direcção da ACB que, sensível ao pedido dos partidos políticos, reconsiderou a proposta de financiamento municipal.
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As escolas de samba que habitualmente desfilam no Carnaval da Bairrada e que, cada uma à sua maneira, têm recebido o apoio da ACB, poderiam, em todo este processo, ter agido com maior diligência e nem sempre souberam colocar os interesses da comunidade à frente dos seus interesses imediatos. Soubemos que se realizaram reuniões entre os dirigentes das seis escolas e nunca parece ter havido consenso frutífero.
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Os vereadores do PSD na Câmara Municipal da Mealhada tentaram dar também o seu contributo na discussão que envolveu a realização do Carnaval de 2008. Mais do que por incapacidade operativa do que por falta de vontade, o que ficará para a história será o registo do seu protesto pelo facto de, na Câmara, se sentirem arredados da maior parte das decisões municipais. Não souberam, também, e em contraste com outras situações, apresentar uma solução alternativa e constituírem-se como o mediador que Rui Marqueiro, presidente da comissão política do PS e da Assembleia Municipal, acabou por ser.
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Rui Marqueiro assumiu um papel patriarcal neste processo. Depois de, através de um comunicado da comissão política do PS, ter feito saber que o assunto teria de ser resolvido rapidamente a bem do interesse municipal (e partidário também, naturalmente), Rui Marqueiro patrocinou a elaboração de um documento, assinado, ainda, pelos dirigentes do PSD e do PCP, que pedia à direcção da ACB que reconsiderasse a sua posição. A direcção foi sensível a esse pedido e aceitou organizar o Carnaval deixando para Marqueiro e para os partidos intervenientes o ónus da resolução do problema. A direcção acabou por valorizar mais o pedido destes partidos do que o da Câmara.
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in Editorial do Jornal da Mealhada de 21.11.07