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O Congresso dos Deputados de Espanha aprovou, há pouco mais de um mês, uma lei que obriga à retirada dos símbolos franquistas de todos os espaços públicos do reino de Espanha. A lei estabelece outras medidas com vista ao reconhecimento dos que sofreram perseguição ou violência durante a Guerra Civil e durante a ditadura franquista. Inclui-se o reconhecimento da existência de vítimas de ambos os lados do conflito — direitistas e republicanos —, de valas comuns para sepultura de vítimas e de outros actos menos dignos. Mais de trinta anos passados, o Governo espanhol procede a uma operação de limpeza da memória, de saneamento histórico, num país que conseguiu fazer uma admirável transição de uma ditadura para uma pujante democracia. Esta lei da memória parece-nos extraordinariamente perigosa porque contraria, a nosso ver, um princípio que nos parece salutar — o da sã convivência e da unidade entre o passado, o presente e o futuro…
Não apagar a memória e promover a informação, o conhecimento, de todos os aspectos da História, mesmo os mais dolorosos, são meios fundamentais à disposição das democracias para sua própria sobrevivência. Usamos do mesmo critério para defender que deve ser preservada a memória da Rua António Maria Cardoso, e criado um espaço museológico na antiga sede da PIDE/DGS, em Lisboa, e que seja criado, também, um centro de estudos do Estado Novo, em Santa Comba Dão, por exemplo.
Aushwitz, que na Alemanha nazi foi um campo de concentração, hoje é um museu que choca, que incomoda, que interpela o visitante. Deveriam arrasar-se as instalações do campo? Não seria um crime construir-se, naquele espaço, um condomínio de luxo para que, longe da vista, se afastassem as dores no coração, dores de tanto ódio ali cultivado?