Não está cientificamente provado que o sistema democrático de governação seja o ideal para a África. A nova politologia parece estar a estudar o assunto e a arrogância dos europeus não pode impor a um continente um sistema político. Muito diferente da ociedntal a sociedade africana tem uma organização social e política baseada em aspectos de natureza histórica, nos campos étnico, familiar, económico e outros que ter em conta. Poderá então pensar-se que África está condenada a ser governada pelas armas e que os africanos são inaptos para a democracia? Não. A exigência não deverá ser a da democracia — uma forma de governo que terá defeitos como qualquer outra — mas a do respeito pelos direitos do Homem. Consideramos correcta, por isso, a referência que lhe foi feita nos discursos dos líderes europeus.
Robert Mugabe é um ditador, disso não há dúvida, mas é somente o facto de ter feito uma reforma agrária que espoliou a elite branca, anglo-saxónica, que lhe dá a atenção e a crítica da opinião pública europeia. Um estudo recente da Economist Intelelligence Unit (EIU) avaliou a democraticidade de cinquenta regimes políticos africanos e considerou que só um — o das Maurícias — é uma democracia plena. Seis são democracias com falhas, catorze são regimes híbridos e vinte nove são regimes autoritários. O Zimbabué nem sequer é o pior, há dez Estados africanos com muito menos democraticidade, entre os quais Angola e a Guiné-Bissau, por exemplo. Só uma cultura de respeito pelos direitos humanos poderá promover o desenvolvimento africano. “Não há um único país em África que não possa alimentar o seu povo. Mas não há democracia sem desenvolvimento para a maioria”. Quem o diz é Abdul-Raheem, da ONU, responsável pela campanha Objectivos do Milénio para África.
“Estou convencido de que, pela primeira vez desde que os Estados africanos são independentes, existe agora uma conjugação de circunstâncias excepcional para se falar em cooperação”, afirmou Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia. Joaquim Chissano, antigo presidente de Moçambique e prémio Mo Ibrahim — destinado a dirigentes africanos com provas dadas de boa governação —, disse, recentemente, que África precisa muito mais de parcerias do que de ajuda. “SIDA, pobreza, alterações climáticas, migrações são problemas globais. Afinal, estamos todos no mesmo barco. Se África se afundar, afundamo-nos todos. Só que uns afundam-se ricos e outros afundam-se pobres”, afirmou Chissano.

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