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Morreu na noite passada Luiz Pacheco, o escritor maldito.
Um abjeccionista, um libertino, um escandoloso, um polemista, um grande intelectual.
O mundo intelectual português, hoje, elogia-o como o melhor escritor da sua geração. Ele responderia, digo eu, “Puta que os pariu”, como disse tantas vezes.
Luiz Pacheco não morreu, fornicou-se.
Fodeu-se!
É mais apropriado.
Foi-se o último dos livres pensadores.
Depois do Cesarinny, vai agora o Pacheco. Vai, não! Levam-no porque por ele tinha cá ficado mais uns tempitos…
Era essa a palavra que eu queria dar para título… mas faltaram-me os tomates!
A esse epípeto de escritor maldito, responde assim Pacheco, em Literatura Comestível:
“Raios os afundem! ….
Nos últimos anos a esta parte e recentemente com mais insistência, calculo que por ternura de simpatia ou escárnio maldoso (em linguagem jurídica: animus injuriandi) ou sequer só parvoíce, tenho vindo a ser apodado à lai de pancadinhas nas costas ou cuspidela ofensiva de ESCRITOR MALDITO. Aqui há de certeza um equívoco (ou dois), uma saloiíce com que começo a engalinhar, a ficar irritado (esfrangalhado).
(…)
Para mim um ESCRITOR MALDITO é:
a) o que escreve mal. (…)
b) o escritor de domingos. (…)
c) os vendilhões. (…).
Eis, em breve exemplo, o que é para mim um escritor maldito. E a eles e aos que por simpatia ou querendo sangrar-me em vida, me chamam maldito nas barbas ou pelas costas, daqui grito sem ira nenhuma ou rancor, como saudação amigável:
Raios os partam!”
E já que o Licius falou nele, no grande Cesariny, aconselho a quem não conhece o livro “Pacheco versus Cesariny”, um conjunto de cartas e “minmos” trocado entre ambos, bem como com outros escritores da altura. A edição que tenho é da Estampa, de 1974; não sei se há mais recente.
Caro Canilho… não é “tomates”….