Quid est veritas?
Sobre o estado da Nação, o que é a verdade? Na próxima quinta-feira, 10 de Julho, pelas 15 horas, reunir-se-ão, no plenário de São Bento, os deputados da Nação e o Governo para o último debate da legislatura. Em discussão estará “O estado da Nação”. Salientámos, no editorial da última edição, as vantagens que decorrem da auto-avaliação em qualquer organização. E este debate reúne todas as condições para que se faça auto-avaliação e dela sejam tiradas as devidas vantagens. Possibilitará, também, o conhecimento da verdade sobre o estado real do país?
Do célebre diálogo entre Cristo e Pilatos resultou, para a eternidade, a não menos célebre pergunta do governador romano a Jesus: Quid est veritas? — O que é a verdade? No momento presente surge, também, uma questão: Qual é a verdade sobre a situação do país?
Há a verdade de José Sócrates. O primeiro-ministro, em entrevista à estação de televisão pública, RTP, avisou que todos os países europeus, e os Estados Unidos da América igualmente, estão em situação económica difícil, a que não pode chamar-se, ainda, de crise. Declarou-se optimista em relação ao futuro, ma non troppo (mas não demasiado), e disse que, com energia e coragem, o país consegue entrar outra vez em fase de desenvolvimento continuado. O chefe do Governo diz-se orgulhoso do saneamento das contas públicas e das reformas que encetou. Acredita, segundo disse, que, com o conjunto de obras por si anunciadas, que serão feitas com o dinheiro de entidades privadas, se resolvem os principais problemas do Estado. E que uma atitude de energia, de dinamismo e de confiança garantirão uma maioria socialista na Assembleia da República, após as eleições legislativas de 2009.
Verdade diferente é a identificada por Manuela Ferreira Leite, presidente do maior partido da oposição. Em entrevista à TVI, ela frisou: “O país está hipotecado. O país não tem dinheiro para nada!”. Disse também que a situação do país é séria e preocupante, especialmente a situação social, e que não é com investimento público que “isto se salva”. Salientou que é preciso dizer a verdade aos portugueses, a sua verdade, e convencer-nos de que só quem fala verdade é que pode salvar Portugal do estado em que se encontra.
A verdade enunciada por parte substancial dos comentadores especializados em Economia aponta as condicionantes internacionais preço dos combustíveis, iminente crise alimentar, crise nos negócios imobiliários nos Estados Unidos da América, entre outras, como as principais causas do actual estado da Nação portuguesa e das nações europeias. Estado esse que ninguém classifica como de prosperidade. Será um estado de abrandamento económico ou de decréscimo iminente, pelo menos.
A verdade é que os portugueses estão apreensivos relativamente ao futuro e já há muito tempo que, na rua, cheira a pessimismo. E voltamos à pergunta: Qual é a verdade? Haverá sinais de esperança, como diz José Sócrates? Estará o país em tão más condições, como nos diz Ferreira Leite? Ou estará ainda pior? E a verdade é que nunca a conheceremos exactamente. Porque não dispomos dos dados necessários para esse efeito, e porque todas as análises dos comentadores terão sempre algo de subjectivo. Os portugueses vão acreditando na verdade que lhes vai sendo transmitida por quem mais confiança lhes merece, e vão caminhando… sem grande esperança.
Os problemas que têm vindo a público na Educação ou na Justiça, por exemplo, agravam o nosso estado de pessimismo. Problemas que temos de enfrentar, que até poderiam existir desde há muito, mas dos quais não teríamos consciência e que agora se agravam aos nossos olhos. Mas é nesses problemas, só, que consiste a verdade do país? Quantas vezes não tomamos a nuvem por Juno?
Há, com certeza, razões para estarmos preocupados. Há, com certeza, motivos para adoptarmos comportamentos de austeridade. Há, com certeza, sinais que denotam a incapacidade dos nossos dirigentes para resolver questões prementes da nossa vida colectiva. Mas o que é que acontece se baixarmos os braços? Poderemos emigrar todos? Será essa a solução? Será essa a verdade de Portugal?
Bruno Proença, editorialista do Diário Económico, ao abordar, em 7 de Julho, o tema do estado da Nação, afirmou o seguinte: “E quem vai tratar da saúde da Nação? Como também é hábito, a discussão vai centrar-se no Governo. Não chega. Obviamente que este Executivo, como os do passado, tem culpas, sobretudo pelo que não fez tendo em conta o poder — exagerado — na sociedade e na economia. Mas as mudanças passam por todos. O desemprego e a produtividade não se resolvem por decreto, bem como a melhoria da eficiência energética. A Nação está num ponto em que todos devem assumir as suas responsabilidades. Isto inclui partidos, empresários, sindicatos — não basta pensar e dizer o que está mal. É altura de a denominada ‘sociedade civil’ também fazer alguma coisa”.
Se nada pudermos ou se nada quisermos fazer, de que nos serve o conhecimento da verdade sobre o real estado da Nação nesta altura? Interessa arregaçar as mangas e colaborar, à nossa medida, na cura e deixarmos de fazer parte da doença com o nosso pessimismo.
Sobre o estado da Nação, o que é a verdade? Na próxima quinta-feira, 10 de Julho, pelas 15 horas, reunir-se-ão, no plenário de São Bento, os deputados da Nação e o Governo para o último debate da legislatura. Em discussão estará “O estado da Nação”. Salientámos, no editorial da última edição, as vantagens que decorrem da auto-avaliação em qualquer organização. E este debate reúne todas as condições para que se faça auto-avaliação e dela sejam tiradas as devidas vantagens. Possibilitará, também, o conhecimento da verdade sobre o estado real do país?
Do célebre diálogo entre Cristo e Pilatos resultou, para a eternidade, a não menos célebre pergunta do governador romano a Jesus: Quid est veritas? — O que é a verdade? No momento presente surge, também, uma questão: Qual é a verdade sobre a situação do país?
Há a verdade de José Sócrates. O primeiro-ministro, em entrevista à estação de televisão pública, RTP, avisou que todos os países europeus, e os Estados Unidos da América igualmente, estão em situação económica difícil, a que não pode chamar-se, ainda, de crise. Declarou-se optimista em relação ao futuro, ma non troppo (mas não demasiado), e disse que, com energia e coragem, o país consegue entrar outra vez em fase de desenvolvimento continuado. O chefe do Governo diz-se orgulhoso do saneamento das contas públicas e das reformas que encetou. Acredita, segundo disse, que, com o conjunto de obras por si anunciadas, que serão feitas com o dinheiro de entidades privadas, se resolvem os principais problemas do Estado. E que uma atitude de energia, de dinamismo e de confiança garantirão uma maioria socialista na Assembleia da República, após as eleições legislativas de 2009.
Verdade diferente é a identificada por Manuela Ferreira Leite, presidente do maior partido da oposição. Em entrevista à TVI, ela frisou: “O país está hipotecado. O país não tem dinheiro para nada!”. Disse também que a situação do país é séria e preocupante, especialmente a situação social, e que não é com investimento público que “isto se salva”. Salientou que é preciso dizer a verdade aos portugueses, a sua verdade, e convencer-nos de que só quem fala verdade é que pode salvar Portugal do estado em que se encontra.
A verdade enunciada por parte substancial dos comentadores especializados em Economia aponta as condicionantes internacionais preço dos combustíveis, iminente crise alimentar, crise nos negócios imobiliários nos Estados Unidos da América, entre outras, como as principais causas do actual estado da Nação portuguesa e das nações europeias. Estado esse que ninguém classifica como de prosperidade. Será um estado de abrandamento económico ou de decréscimo iminente, pelo menos.
A verdade é que os portugueses estão apreensivos relativamente ao futuro e já há muito tempo que, na rua, cheira a pessimismo. E voltamos à pergunta: Qual é a verdade? Haverá sinais de esperança, como diz José Sócrates? Estará o país em tão más condições, como nos diz Ferreira Leite? Ou estará ainda pior? E a verdade é que nunca a conheceremos exactamente. Porque não dispomos dos dados necessários para esse efeito, e porque todas as análises dos comentadores terão sempre algo de subjectivo. Os portugueses vão acreditando na verdade que lhes vai sendo transmitida por quem mais confiança lhes merece, e vão caminhando… sem grande esperança.
Os problemas que têm vindo a público na Educação ou na Justiça, por exemplo, agravam o nosso estado de pessimismo. Problemas que temos de enfrentar, que até poderiam existir desde há muito, mas dos quais não teríamos consciência e que agora se agravam aos nossos olhos. Mas é nesses problemas, só, que consiste a verdade do país? Quantas vezes não tomamos a nuvem por Juno?
Há, com certeza, razões para estarmos preocupados. Há, com certeza, motivos para adoptarmos comportamentos de austeridade. Há, com certeza, sinais que denotam a incapacidade dos nossos dirigentes para resolver questões prementes da nossa vida colectiva. Mas o que é que acontece se baixarmos os braços? Poderemos emigrar todos? Será essa a solução? Será essa a verdade de Portugal?
Bruno Proença, editorialista do Diário Económico, ao abordar, em 7 de Julho, o tema do estado da Nação, afirmou o seguinte: “E quem vai tratar da saúde da Nação? Como também é hábito, a discussão vai centrar-se no Governo. Não chega. Obviamente que este Executivo, como os do passado, tem culpas, sobretudo pelo que não fez tendo em conta o poder — exagerado — na sociedade e na economia. Mas as mudanças passam por todos. O desemprego e a produtividade não se resolvem por decreto, bem como a melhoria da eficiência energética. A Nação está num ponto em que todos devem assumir as suas responsabilidades. Isto inclui partidos, empresários, sindicatos — não basta pensar e dizer o que está mal. É altura de a denominada ‘sociedade civil’ também fazer alguma coisa”.
Se nada pudermos ou se nada quisermos fazer, de que nos serve o conhecimento da verdade sobre o real estado da Nação nesta altura? Interessa arregaçar as mangas e colaborar, à nossa medida, na cura e deixarmos de fazer parte da doença com o nosso pessimismo.
Editorial do Jornal da Mealhada de 9 de Julho de 2008