O Dudu vendia gelados à porta da capela de Água Izé, quando nos conheceu. Estávamos na manhã de 2 de Agosto de 2008. Os gelados que vendia eram aqueles tipo fá… sumo gelado. O NJ decidiu comprar um… acontece que não poderíamos beber aquela água gelada (a porcaria da mania dos europeus). Então acabou por lhe dar dinheiro suficiente (para nós uma miséria) para comprar toda a caixa dos gelados e mais umas quantas. Estabeleceu, no entanto, um compromisso, o Dudu entregaria os gelados, comprados pelo NJ, a todos os miudos que estavam ali à volta.
A partir daí o Dudu tornou-se o nosso braço direito, oficial em armas. Silencioso, observador, antecipava os nossos movimentos e procurava ajudar em tudo o que precisavámos. “Dudu, arranjas-nos um coco?”, perguntávamos. Meia-hora depois tinhamos à porta da tenda sete ou oito cocos. Era o líder da criançada. Um capitão da areia, como escrevia Jorge Amado. Naquele olhar todos os desejos do mundo, toda a força do mundo.
As palavras para mudar o mundo estão inventadas. Dudu pode não as conhecer. Mas mudará, um dia, o seu mundo.
Saudades.
“Tua mão cor-de-laranja
oscila no céu de zinco
e fixa a saudade
com uns grandes olhos taciturnos”.
Maria Manuela Margarido, santomense