Mil Carateres #07 – Publicado no Jornal da Mealhada de 16FEV22
[2535.] ao #15669.º
O Chega e a sua elevação a terceira força mais votada colocam a sociedade portuguesa e, especialmente, as restantes forças partidárias perante o que Karl Popper teorizou como ‘O Paradoxo da Tolerância’.
Segundo Popper, uma sociedade tolerante não deve tolerar os intolerantes. Sempre que os tolerantes dão aos intolerantes todas as prerrogativas de Liberdade e de Igualdade, estes acabam por conseguir – com o espaço e protagonismo que conquistam – extinguir a Tolerância. Trata-se de um paradoxo, uma contradição, mas também de certeza universal.
O Chega cumpre sempre os seus objetivos: Se os outros partidos seguirem Popper, queixa-se, vitimiza-se e ganha com isso; Se lhe derem espaço, o Chega conduz a agenda e, em tese, consegue conquistar o poder e condicionar a governação.
Não me parece que queira mais do que condicionar. O Chega será, apenas, (mais) um produto de laboratório de Steve Bannon. Uma voz popular de disrupção, focada no presente e nos descontentamentos momentâneos, sem projeto político a longo prazo, e que pelo menos durante um determinado tempo, ganha sempre. Exibindo a prisão da sociedade tolerante ao seu próprio paradoxo.
Ouvir Popper ou não? Dá igual!