Ao som de «Don’t look up – ending scene»
[2507.] ao #15626.º
Hoje conheci Maimonides (1138 – 1204). E gostei muito de conhecer um judeu que nasceu em Córdova, no Al-Andalus. E que, entre outras proezas intelectuais e especialmente literárias, descodificou a Torá… Num texto escrito em hebraico através de grafia árabe. ‘Guia dos Perplexos’ era o poético nome desse livro. Que nome maravilhoso para um livro.
Parece que no tempo de Maimonides havia quem não conseguisse perceber alguns dos significados imagéticos da Torá. Não podendo compreender todo o alcance da mensagem, muitas vezes ficavam-se pela literalidade que era, também, incompreensível.
‘Guia dos Perplexos’ poderia ser, também um nome possível para o filme que está na Netflix – ‘Don’t look up’ – e que está a bater todos os recordes de audiências nestes primeiros dias de janeiro. É uma história ridícula, parece uma comédia non-sense, mas, curiosamente muito menos non-sense do que muitas que temos vivido.
Amanhã, 6 de janeiro, faz um ano que o Presidente dos Estados Unidos mobilizou os seus apoiantes a invadirem o Capitólio. Seria non-sense… mas aconteceu. O mesmo protagonista sugeriu que se injetasse lixívia no corpo das pessoas para matar o vírus do COVID-19. Seria non-sense… mas aconteceu. O presidente do Brasil insiste em chamar gripezinha a um vírus que já matou 620 mil brasileiros (11% dos mortos por COVID no mundo), que incentiva as pessoas a não se vacinarem e sugere que a vacina induz a contração do HIV. Seria non-sense… mas aconteceu.
Cá em casa vimos o filme no segundo dia do ano. Seria uma comédia porreira para alegrar a noite de Lua Nova e do recomeço de um ano novo. Mas acabou por ser inquietante. O filme é uma comédia… mas é tão realista que só nos deu vontade de chorar!
É, efectivamente, uma perplexidade.