Hoje é Dia de Reis. Depois da Implantação da República foi solenidade perseguida pelos novos democratas do novo regime. A estupidez do politicamente correcto não é do século XXI! Não nasce com alguém achar que democrático é, no final de uma oração, dizer “Amen” e “Awomen”… Ou achar que um desenho animado em que um personagem é um afro-americano tem de ser dobrado por um afro-português. E eu que achava que os homens (e as mulheres) eram todos iguais fiquei a perceber que há voz de branco e voz de negro! Houve estupidez em 1910 e em 1974 quando proibiram que nas rádios passasse a música de Eduardo Damas e António Mourão, de 1965, “Ó Tempo Volta para Trás”!
A Democracia é uma filosofia política (há quem lhe chame regime, mas parece-me mais do que isso) assente na ideia fundamental de que a gestão do que é comum deve ser decidida pelos cidadãos autónomos, em Liberdade e em respeito por princípios de Igualdade, Solidariedade e Bem-Comum. Assim, é possível, em Liberdade, escolher opções que limitam a Liberdade. É o paradoxo democrático. Eleger, pelo método democrático, alguém que não é um democrata é uma opção democrática. É a democracia formal. Se Trump tivesse ganho as eleições americanas era tão democrático como a eleição de Biden. Eleger André Ventura é tão democrático como eleger Ana Gomes, João Ferreira ou Marisa Matias.
Em suma, a Democracia pode eleger Tiranos, já a Tirania não permite a eleição de Democratas. A Democracia é paradoxal, formal e imperfeita (e há quem garanta que não funciona). Mas é a melhor coisinha a que conseguimos chegar, em milhares de anos de evolução, para tomar decisões comuns.
Isto tudo para dizer que o paradoxo democrático é tão interessante e complicado de perceber (o que muitas vezes estimula a radicalidade da tirania) que é possível um órgão democrático ancestral, na ‘Terra dos Livres e na Casa dos Bravos’, ser assaltado a mando de um presidente democraticamente eleito. É possível alguém que foi eleito pelo maior número de pessoas até então, com um reforço de votos quatro anos depois, mandar invadir a Casa da Democracia… E em nome da Democracia incentivar o acto mais anti-democrático capaz de se imaginar.
[2451.] ao #15262.º