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“Os bebés que estão a nascer agora já têm uma expectativa de vida para mais de 100 anos. A partir daqui surgem os 105, 110 e os 150 anos.”
A frase é de Mayana Zatz, professora doutorada do Departamento de Genética e Biologia Evolutiva do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, no Brasil, numa entrevista que deu ao DN, publicada hoje 02JUL.
A noticia é boa. Não tenho dúvida disso. Mas inquieta-me.
Por um lado, não vejo as crianças de hoje mais felizes e mais livres do que eu fui. Sinto-as mais pressionadas, com mais conhecimentos, com mais competências técnicas e menos competências sociais. Sinto-as manietadas, mais formatadas, menos crianças. Vão ser gente durante mais tempo, é certo… mas gente mais feliz?
Por outro lado, esta entrevista dá-nos conta de que a genética e a medicina estão a manipular a vida humana, tornando-a (de modo artificial) naturalmente mais longa e duradoura.
Em pouco tempo – sem nos termos preparado para isso de modo nenhum, nem a nível ético, nem a nível logístico, nem a nível pragmático – passámos de uma esperança média de vida dos nossos avós que estava nos 70 anos para uma esperança média de vida dos nossos filhos que será de mais de 100 anos. Um aumento de 42% em três gerações.
Daqui a 20 anos teremos, em Portugal, 4 milhões de pessoas com mais de 80 anos. Hoje temos metade deste número. E hoje não estamos preparados para isso. Estaremos daqui a 20 anos.
Hoje precisamos de mais crianças, toda a gente sabe, e amanhã precisamos de mais adultos.
DIA VENCIDO #14343