Antoine Leiris, jornalista da France Bleu, escreveu esta carta aos terroristas que mataram a sua mulher, nos atentados de 13 de novembro de 2015, em Paris. É um texto devastador. Talvez por ser surpreendente tem chamado a atenção pela aparente contradição que parece estabelecer. Mas, por outro lado, acaba por ser um bom ponto de partida para a divulgação de um principio que parece ser cada vez mais relevante na luta contra o terrorismo… que se poderia chamar ‘da psicologia invertida’. Ou seja: os terroristas procuram atacar-nos (a nós e ao nosso estilo de vida ocidental – que se funda na Liberdade) pelo medo. E nós pelo medo, mudamos os nossos comportamentos e passamos a lidar com ódio e atacamos o estilo de vida que não é o nosso – nomeadamente o do fanatismo religioso – e perdemos a razão, porque passámos a ser os agressores. Mas se por outro lado, lhe negarmos o ódio, lhe negarmos o medo e a renuncia aos nossos valores, então, provavelmente, as suas acções deixaram de ter qualquer efeito.
Isto não quer dizer que nos tornemos passivos. Significa que teremos de nos tornar superiores. Como Leiris diz nesta carta: Temos de lhes fazer a afronta de sermos felizes e livres.
“Vocês não terão o meu ódio
Na noite de sexta-feira vocês acabaram com a vida de um ser excepcional, o amor da minha vida, a mãe do meu filho mas vocês não terão o meu ódio. Eu não sei quem são e não quero sabê-lo, são almas mortas. Se esse Deus pelo qual vocês matam cegamente nos fez à sua imagem, cada bala no corpo da minha mulher terá sido uma ferida no seu coração.
Por isso eu não vos darei a prenda de vos odiar. Vocês procuraram-no mas responder ao ódio com a cólera seria ceder à mesma ignorância que vos fez ser quem são. Querem que eu tenha medo, que olhe para os meus concidadãos com um olhar desconfiado, que eu sacrifique a minha liberdade pela segurança. Perderam. Continuamos a jogar da mesma maneira.
Eu vi-a esta manhã. Finalmente, depois de noites e dias de espera. Ela ainda estava tão bela como quando partiu na noite de sexta-feira, tão bela como quando me apaixonei perdidamente por ela há mais de doze anos. Claro que estou devastado pela dor, concedo-vos esta pequena vitória, mas será de curta duração. Eu sei que ela nos vai acompanhar a cada dia e que nos vamos reencontrar no países das almas livres a que nunca terão acesso.
Nós somos dois, eu e o meu filho, mas somos mais fortes do que todos os exércitos do mundo. Eu não tenho mais tempo a dar-vos, eu quero juntar-me a Melvil que acorda da sua sesta. Ele só tem 17 meses, vai comer como todos os dias, depois vamos brincar como fazemos todos os dias e durante toda a sua vida este rapaz vai fazer-vos a afronta de ser feliz e livre. Porque não, vocês nunca terão o seu ódio.”http://www.sabado.pt/mundo/europa/detalhe/viuvo_escreve_carta_aos_terroristas_que_mataram_a_sua_mulher.html