(Ainda) Não tenho filhos. Tenho quatro afilhados (uma por afinidade) e é neles, nas caras deles, que penso quando sinto que tenho que fazer um qualquer sacrificio em nome do Corpo Nacional de Escutas. Durante muito tempo vinha-me à memória a cara de muitas dezenas de crianças e jovens que já ajudei a educar no escutismo… mas ultimamente é a cara do Miguel, da Carolina, do Zé Gonçalo e da Isa que me vem à memória…
E é por eles que dou o meu contributo – se calhar menor do que devia, mas quase sempre maior do que posso – para uma causa que me é tão cara e tão importante: Ajudar a educar a próxima geração de líderes portugueses através de um sistema de corresponsabilização, de trabalho em equipa, de descoberta e valorização pessoal, através de um esquema não formal de aquisição de conhecimentos, competências e atitudes.
No fim de semana de 14 e 15 de setembro participei, em Albergaria-a-Velha, no Comité Nacional do Programa Educativo, uma reunião nacional de responsáveis regionais para definição de linhas gerais da acção da associação em termos do seu elemento mais central, a da oferta pedagógica, o “o quê” que o CNE faz. Como sempre foi um encontro de bons amigos, de partilha de experiências e da assunção de uma visão global, mais visionária e mais abrangente daquela que é a maior associação de jovens de Portugal.
Mas desta visão abrangente nem sempre resulta um sentimento de tranquilidade… O CNE está a precisar de uma reflexão profunda, de uma completa renovação da sua prática associativa. Dito de outra forma: Em 2010, o CNE fez a sua mais importante reforma dos últimos 30 anos (altura em que abriu o programa à co-educação para jovens de ambos os géneros), essa foi a Renovação da Acção Pedagógica (feliz e orgulhosamente integrei a equipa nacional que fez essa reforma). Digamos que o RAP trabalhou o “o quê”.
Nesta fase, hoje, estamos a fazer a Renovação do Sistema de Formação de Dirigentes – trabalhando o dominio da Relação Educativa, entre os jovens e os animadores adultos. Estamos, portanto, a trabalhar o “com quem”.
Acredito que está na hora de procedermos a uma profunda Renovação da Prática Associativa. Para isso temos de recentrar o debate no “como”.
De que forma se organiza uma associação que é juvenil, mas onde os jovens adultos têm um papel perfeitamente subsidiário e apenas decorativo?
De que forma está “regulamentarizada” uma associação que se renovou amplamente com novos esquemas de contacto através de ferramentas eletrónicas e digitais, mas continua refém de burocracias de mangas de alpaca?
De que forma pode continuar a ser gerida uma associação que está a crescer exponencialmente nos últimos anos, mas que tem de continuar fiel a altos padrões morais, de exigência cívica e umbilical a um código de valores perene e solidificado?
E, por fim, de que forma pode a maior associação de jovens do país – repito o epiteto à exaustão – estar em harmonia com a actualidade e com a modernidade quando tem um fraquissima participação nos órgãos de decisão, com (alguns) dirigentes anti-renovação de qualquer espécie que não respeitam nem subscrevem regras de democracia interna, de livre arbítrio das pessoas e que entram para a clandestinidade reaccionária e de guerrilha depois de terem perdido eleições, agindo de forma irracional, nomeadamente sonegando informação (muitas vezes privada e pessoal de outros), recusando-se a passar a pasta?
Há quem diga que o Congresso marcado para os próximos dias 9 e 10 de novembro pode dar um contributo na resposta a estas perguntas. Eu assim espero!