Entrevista ao jornal REGIÃO BAIRRADINA
Publicado em 24.01.2013

O apoio municipal tem sido presente e muito relevante
Título escolhido pelo jornal

 
 
 
 
 
 
 
 
 
Que razões o levaram a candidatar-se à presidência da
Direcção dos Bombeiros da Mealhada?

Perante a informação de que o anterior presidente, Abílio
Semedo, não teria intenções de se recandidatar, recebi da parte de alguns
sócios a sugestão de que me candidatasse. Como não podia ser indiferente a esse
apelo, e porque tenho muito gosto em ser sócio dos Bombeiros da Mealhada,
sondei algumas pessoas no sentido de constituirmos uma equipa, que resultou
numa candidatura jovem e dinâmica.

Entendemos todos que, nesta fase da nossa vida, faz sentido
dedicarmos o nosso tempo livre e, acima de tudo as nossas energias, à nossa
comunidade, através de uma causa tão nobre e importante como é a dos Bombeiros
Voluntários. Somos voluntários – tal como os nossos bombeiros – e assumimos
esta responsabilidade por imperativo de consciência e com sentido de missão e
cidadania.

Quais os objectivos que pretende levar por diante à
frente da Associação?

O objectivo central é o de dar ao corpo de bombeiros todas
as condições para que possam cumprir a sua missão da melhor forma possível:
com  tranquilidade, com eficiência, com
formação, com profissionalismo e, acima de tudo, em segurança. Como já disse,
somos todos voluntários, os bombeiros na frente do combate da protecção civil
de pessoas e bens, no apoio à saúde, e nós, na retaguarda, discretos,
garantindo que nada lhes faltará falta, com a angariação de fundos de
financiamento, investindo em material e equipamentos que vão ao encontro da
satisfação das aspirações dos bombeiros e das necessidades das populações,
servindo de intermediários e de elo de aproximação entre a comunidade que
precisa dos bombeiros e os bombeiros que precisam da comunidade.

Actualmente quais as principais dificuldades com que se
debate a Corporação?

Em Portugal, a protecção civil de pessoas e bens – que é uma
obrigação soberana do Estado – é, na maior parte do território, garantida por
associações privadas, locais, com corpos de bombeiros voluntários, e
financiadas pelos sócios, a comunidade, e na maior parte dos casos, apoios
municipais. Ao longo do tempo, as associações socorreram-se da prestação de
outro tipo de serviços, pagos, que servem de financiamento das associações. Nos
últimos anos, no entanto, o Estado tem tido uma espécie de surto legislador e,
em vez de apoiar associações, tem criado obstáculos ao funcionamento dessas
associações. Falo, por exemplo, do sistema da liberalização do serviço de
transportes de doentes – a empresas privadas de ambulâncias -, que está a levar
as associações à ruína, e da legislação que obriga os voluntários a limites
mínimos de serviço operacional e formação. À crise de voluntariado, que é,
naturalmente, outro dos grandes problemas, soma-se, assim, um conjunto de
exigências formais que está a reduzir o número de bombeiros voluntários.    

Qual o número de bombeiros? É vossa intenção aumentar
esse número? De que forma pretendem sensibilizar os jovens para esta causa?

O nosso corpo activo é constituído por 56 homens e mulheres.
Naturalmente que é nosso desejo que o número de bombeiros voluntários aumente e
tudo faremos para, em conjunto com o comando, trabalhar nesse sentido. Estamos
a preparar um conjunto de iniciativas e programas, em harmonia com o comando e
com a delegação da Juvebombeiros, – que em breve apresentaremos a um conjunto
de parceiros da sociedade civil – com esse objectivo. São actividades de índole
pedagógica – junto dos estabelecimentos escolares e associações -, de índole
social e desportiva. Paralelamente a tudo isso, o comando tem preparada uma
nova escola de bombeiros que abrirá inscrições em breve.

Segundo algumas informações, o Comandante António Lousada
não vai continuar à frente do Corpo Activo. A Direcção já está a trabalhar
nesta questão?

O Comandante António Lousada terminou o seu mandato em meados
do mês de dezembro. Desde essa data, até porque a estrutura operacional de um
corpo de bombeiros é especialmente pragmática, o comando da corporação está a
ser assegurada pelo Segundo Comandante Joaquim Valente de Oliveira, que conta,
também, com o Adjunto de Comando Nuno Antunes João. A direcção está sensível à
necessidade de nomear, a breve prazo, um comandante, como lhe compete, e está a
trabalhar nisso, afincadamente. Importa, no entanto, dar conta a todos de que
estamos tranquilos e temos confiança absoluta nas capacidades operacionais do
comando em exercício. Há urgência na nomeação do comandante, até por uma
questão de expectativas, mas não há qualquer tipo de risco.

Aproveito a oportunidade para dar testemunho de
agradecimento público ao Comandante Lousada, que exerceu a responsabilidade com
elevado sentido de altruísmo e abnegação.

Em termos de apoios, a Câmara Municipal tem colaborado
com a Associação?

A Câmara Municipal da Mealhada tem sido o principal apoio da
associação. Depois das receitas próprias associadas a serviços prestados, e à
quotização de associados, o financiamento municipal tem sido a mais importante
receita. Recentemente, para apoio à compra de uma nova viatura, um Veículo
Tanque Tático Rural, recebemos vinte e cinco mil euros, o que se revelou
extraordinário. Ou seja, o apoio municipal tem sido presente e muito relevante,
o que no quadro já anteriormente referido acaba por ser fundamental e garante
da sustentabilidade.

A quebra no transporte de doentes tem vindo a afectar a Corporação?
Se sim, de que forma?

Como já referimos, o transporte de doentes é um serviço
prestado – para o qual a associação investiu, nomeadamente com a compra de
veículos especializados e contratação de pessoal – que é, também, a mais
importante receita que temos para exercer uma missão na comunidade que é, em
ultima análise, uma obrigação soberana do Estado. Ou seja, os bombeiros não se
limitam aos peditórios para garantir o financiamento necessário para proteger
pessoas e bens. As associações de bombeiros têm o transporte de doentes como
serviço à comunidade e como fonte de rendimento. Quando, de um momento para o
outro, essa fonte de receita sofre quebras mensais na ordem dos 60 por cento,
nada pode ficar como antes. A associação dos bombeiros da Mealhada é uma de
duas corporações do concelho, e de repente, vê entrar no concelho uma empresa
privada, que diz ter sede no concelho, e que arrecada metade do volume total de
transportes de doentes. Ou seja, ficámos com uma “quota de mercado”
de apenas 25 por cento do volume total de serviços, com a ocorrência de
verdadeiras atrocidades, que denunciam uma completa falta de sentido prático e
económico do sistema, como a do casal que sai de casa à mesma hora e para
consultas no mesmo local e é transportado por duas entidades diferentes,
consumindo ao Estado o dobro dos recursos.

Em que medida a actual crise económica está a afectar o
trabalho da Corporação?

A crise económica, financeira e social afetará,
naturalmente, o voluntariado, na medida em que as pessoas, tendo que trabalhar
mais tempo para auferir o mesmo rendimento, vão deixar de dar tempo (ou tanto
tempo) ao voluntariado e ao serviço não remunerado, como é o dos bombeiros.

Uma última mensagem para os mealhadenses?

A todas as pessoas das comunidades que são mais diretamente
servidas pela nossa corporação – especialmente nas freguesias de Luso,
Vacariça, Mealhada, Antes, Ventosa do Bairro -, e também de Casal Comba,
Murtede e Sepins (estas duas já no concelho de Cantanhede), queremos deixar uma
palavra de Esperança e de Confiança. Estamos – a associação e o seu corpo
activo – prontos, empenhados e motivados em garantir o melhor serviço. Contamos
com o apoio de todas as pessoas e empresas, apelando, por exemplo, a que se
tornem nossos associados.